Shopping cultural consome R$ 14 mi

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Por Agencia Estado
Atualização:

O governo do Rio quer retomar o prédio da Fundição Progresso, um imóvel do século passado, onde a construção de um shopping cultural se arrasta desde 1988 e já consumiu US$ 8 milhões (R$ 14,4 milhões), US$ 5,1 milhões (R$ 9,2 milhões) vindos do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES). O projeto é da Fundição de Artes e Progresso, que detém a posse do prédio, mas o procurador-geral do Estado, Francesco Conte, alega quebra de cláusulas do contrato e o interesse do governo em terminar a obra. O Estado pretende doar o imóvel à Rio Previdência, que o alugaria para o mesmo fim e já tem candidatos, mas sem a dívida com o BNDES, que tem juros de 8% ao ano e já ultrapassou os R$ 14 milhões. "A dívida é de quem a contraiu", diz Conte. O atual administrador da Fundição, Perfeito Fortuna, admite não ter dinheiro para saldá-la nem para terminar as obras. A Fundição Progresso seria o primeiro shopping cultural da cidade, orçado em US$ 8,3 milhões (quase R$ 15 milhões hoje). O projeto inicial previa 9 salas de espetáculos, 5 centrais de produção e formação de mão-de-obra, 4 salas de exposição, 15 estúdios, 27 lojas e circulação diária de 10 mil pessoas. Seria uma extensão do Circo Voador, casa de shows que se instalou na Lapa em 1982 e iniciou a revitalização do centro. Para administrá-lo foi criada a organização não-governamental Fundição de Artes e Progresso. Contrato - Em 1984, liderado pelo engenheiro Márcio Calvão, o cenógrafo Maurício Sette e o ator Perfeito Fortuna, o Circo evitou a demolição da antiga fábrica de fogões e fez um contrato até 2004. Isso quando nem se pensava em Centro Cultural Banco do Brasil e Paço da Cidade, no Rio, ou Sesc Pompéia, em São Paulo. Não deu certo. Hoje, a Fundição abriga festas e espetáculos esporádicos, feiras de moda e ensaios de artistas. Com a obra inacabada, o Estado quer integrá-lo ao Distrito Cultural da Lapa, que prevê a ocupação de 15 imóveis públicos do bairro por projetos educacionais e culturais. "A Fundição é estratégica para isso", diz Conte. "Assim que a Rio Previdência tiver sua propriedade vamos retomá-la." O atual administrador tem outros planos. "Isto aqui é um defunto em decomposição ", diz Fortuna, o terceiro a ocupar o cargo. O primeiro foi Calvão, que ficou até 1995 e conseguiu as verbas. Foi substituído por Sette, que deixou o cargo em junho de 1999, quando Perfeito chegou. "Quero ressuscitar isso aqui, concretizar a idéia do Circo e pagar a dívida com o BNDES, pois foi a primeira vez que se emprestou dinheiro público a quem não tinha lastro, só com a garantia do projeto." O BNDES comprou cotas da Fundição e deu prazo de carência de três anos e mais cinco para pagar, com vencimento a cada três meses. O banco fiscalizou as obras, mas nunca recebeu um centavo e não há gestões para cobrar a dívida, pois o contrato previa sua participação em 0,5% do lucro líquido, que não houve. Os R$ 9,2 milhões vieram em duas etapas, a segunda com aval do Banco Icatu, que acompanha de longe e torce por Fortuna na Fundição. Calvão garante que não houve o aval do Icatu, só assessoria técnica e administrativa. Perfeito alega não ter capital para concluir a obra, o que possibilitaria o pagamento da dívida com o BNDES. "Falta concluir a parte elétrica, cobrir a área de shows e o acabamento, mas cerca de 500 pessoas se sustentam trabalhando aqui", afirma. "Quero pagar o BNDES, mas não tenho informações sobre o dinheiro, porque foi na gestão do Sette e do Calvão." Sette alega que, em sua gestão, o dinheiro já havia acabado e ele só lutou para o projeto não morrer.

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