Sherlock Holmes reaparece em peça com sotaque espanhol

Detetive fictício mais famoso do mundo volta aos palcos na pele de Javier Marzán

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Por Agencia Estado
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Sherlock Holmes, o detetive fictício mais famoso do mundo, surpreende seus seguidores com um forte sotaque espanhol em uma original peça de teatro que decidiu reinventar o mito. Este peculiar investigador, mais apaixonado e ardente do que habitual, protagoniza a última versão do clássico de Arthur Conan Doyle O Cão dos Baskerville (1901), que será encenada até o dia 17 na West Yorkshire Playshouse de Leeds, no norte da Inglaterra, antes de sair em turnê mundial. O ator basco Javier Marzán, co-fundador do trio cômico Peepolykus, é o responsável pela transformação de Holmes, que pela primeira vez na história abandona seu sotaque aristocrático e frios gestos para se transformar em um personagem com ares latinos. A obra, dirigida por Orla O´Loughlin, é uma ousada comédia de suspense que se mantém fiel à misteriosa trama do romance, mas com pitadas de humor do tipo "besteirol". Nesta adaptação, o trio cômico de Peepolykus, companhia criada em 1996, interpreta um total de 20 personagens, enriquecidos por várias fantasias e constantes mudanças de cena. Nova versão Marzán é, entre outros papéis, Sherlock Holmes, "o melhor detetive de todos os tempos", que, junto com seu ajudante, o doutor Watson (John Nicholson), deve investigar o que há de verdade na maldição que há gerações atormenta os Baskerville. Segundo a lenda, um cão gigantesco e aterrorizante que vaga pelos solitários terrenos da família em Dartmoor (sul inglês) é o responsável pela morte de vários de seus membros, incluindo Charles Baskerville, cujo desaparecimento dá início à obra. Holmes e Watson deverão também proteger desse animal fantasmagórico seu sobrinho, Henry (Jason Thorpe), que retorna do Canadá para tomar conta de suas propriedades. A interpretação do detetive por um ator basco assombrou os meios de comunicação britânicos e fez tremer a crítica, que no final se rendeu a seus pés. "O acento espanhol dá frescor ao personagem e, além disso, ressalta o peculiar uso da linguagem de Conan Doyle, com frases muito floridas", disse O´Loughlin à EFE. Para Marzán, encarnar em um dos teatros mais inovadores do país o venerado detetive inglês lhe pareceu, a princípio, "uma espécie de sacrilégio", e fazê-lo em outra língua necessitou de "um grande esforço de memória". Ponto alto As referências à sua condição de espanhol estão presentes em todos os seus papéis, mas o principal momento chega em sua interpretação do enteado. Com as luzes acesas, o trio cômico se dirige ao público e finge que houve uma multidão de queixas após a primeira parte do espetáculo, porque o sotaque de Marzán não podia ser entendido, o que lhes dá a desculpa para repetir todo o primeiro ato em velocidade acelerada. Embora os produtores da obra, entre eles o cineasta britânico Sam Mendes, tenham sentido a necessidade de justificar o toque latino do protagonista, na realidade os espectadores que a cada noite enchem a sala se deixam seduzir facilmente por seu inegável encantamento. "No começo te surpreende, mas depois você entra na história e acaba pensando que Sherlock Holmes era basco!", disse Valerie Chowdhury, freqüentadora da Playhouse, em Leeds. "Se o ator é bom, o restante não importa", concluiu sua amiga Anne Campbell.

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