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Shakespeare entrou na moda

Uma geração de modelos, temendo repetir o "efeito Cigano Igor", busca formação profissional em uma escola de atores antes de encarar o palco ou a telinha

Por Agencia Estado
Atualização:

No colo, ela traz uma edição de Shakespeare - Teatro Completo. Os olhos, verdes, mantêm fixos na professora de filosofia, enquanto discute com seu grupo os conceitos-chaves e a temática principal da última leitura dramática. Bianca Bizelo, 23 anos, 1,78 m, modelo da Elite, é uma das alunas-colírio da Carmina Escola de Atores. Ao lado dela está a não menos atraente Cris Peron, 23 anos, 1,77 m, também da Elite. As duas fazem parte de uma geração de modelos que decidiu virar atriz. Nada novo? Não é bem assim. Elas querem atuar, mas antes de pisar em um palco ou encarar a telinha, resolveram buscar formação profissional. Freqüentam, na Carmina, o curso profissionalizante que dá direito ao registro profissional de ator na Delegacia Regional do Trabalho (D.R.T.). "Achei que era mais prático", confessa Bianca, no intervalo entre a aula de filosofia e a de literatura. O excesso de teoria estimula as garotas. "Percebo que há tanto para aprender, tem de estar preparada", acredita Cris, que além do curso de teatro faz faculdade de Psicologia - e cita como bons exemplos de modelos-atrizes Ana Paula Arósio e Maria Fernanda Cândido. Para os amigos de classe, ter bonitonas na área é um motivo a mais para não faltar. O curso é puxado, são três anos de aula, das 19h10 às 22h50, de segunda a sexta no primeiro ano e de segunda a sábado no segundo. No terceiro, os alunos fazem um estágio, no qual realizam um curta-metragem e a montagem de uma peça de teatro. "Tretas ideológicas" - "Motiva, né?", diz José Trassi, 18 anos, estudante da turma de Bianca e Cris, sobre a presença das garotas na escola. Ele admite que ficou surpreso com o desempenho cultural das colegas. "Pensava que modelo era só fachada, mas dá até para rolar umas tretas ideológicas", explica em sua linguagem juvenil. Para Bruno Kott, 19 anos, outro aluno da classe, a presença das modelos é bom e é ruim. "Elas estão ao mesmo tempo tão perto... e tão longe", avalia, desolado. Os professores não fazem nenhuma distinção. Nas aulas de interpretação dadas pelo diretor Maurício Paroni, não há diferenças de tratamento. "Aqui todos são atores, formam uma companhia de arte montando um espetáculo." Prontos para as câmeras - Outro curso da Carmina muito procurado por modelos é o de Interpretação para Vídeo (TV e Cinema). Nele, a primeira lição é a seguinte: "Esqueça a sua aparência externa para que seu conteúdo interno possa ser a primeira camada na frente da câmera." Quem explica é Ivan Feijó, diretor da escola. "A Carmina foi criada para formar atores profissionais para o teatro, cinema e televisão. Essa é a realidade de mercado, não dá para o ator viver só de teatro", constata. Os modelos são maioria na turma que está lá só para aprender a enfrentar o estúdio. Paulo Han (Ford), Thiago Alves (Mega), Pilar Velasquez (Mega) e Vinícius Antunes (Ford) sonham em ganhar seus minutinhos de fama na tevê. "Os atores que se cuidem, pois os modelos, além de mais bonitos, são muito disciplinados", acredita a professora Cintia Di Giorgio. Se depender dessa moçada, Cigano Igor nunca mais.

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