PUBLICIDADE

Setsuko Yamada mostra sua dança em São Paulo

Por Agencia Estado
Atualização:

A coreógrafa japonesa Setsuko Yamada apresenta, apenas segunda-feira, no Teatro Sesc Anchieta, o espetáculo Land Dreams. É a sua primeira visita ao Brasil. Setsuko é uma das solistas mais importantes no panorama da dança contemporânea japonesa. Iniciou sua formação como estudante de teatro na Universidade Meiji, quando começou a freqüentar a escola Tenshi-kan (A Casa dos Anjos), dirigida por Akira Kasai, um dos primeiros mestres de butô, ao lado de Kazuo Ohno e de Tatsumi Hijikata. O seu primeiro solo, Lilac Garden (1977), já mostrava as principais linhas de investigação que a acompanham até amanhã: o uso do espaço, a relação da consciência com o corpo, a transformação da energia em forma visível, a passagem do tempo e a exploração da memória. Mas o traço autobiográfico e os resíduos da morte só apareceram, de forma evidente, alguns anos depois na coreografia Father (1992), uma das mais famosas de seu repertório. Poucos meses após a morte do pai e da perda de amigos bastante jovens, Setsuko passou a refletir sobre a dor e as palavras que pareciam durar no tempo. Como encarná-las? Como projetar os pensamentos em tempo-espaço? Como elaborar a discussão espiritual que partia do treinamento ensinado por Akira Kasai? Kasai ficou conhecido como um dos criadores do butô de improvisação. Inspirou artistas como Min Tanaka que já esteve duas vezes no Brasil, durante a segunda metade dos anos 90. Alguns autores identificam em seu trabalho uma instância etérea, espiritual, e observam na obra de Setsuko uma distância cada vez maior dessa vertente. No entanto, na pesquisa de Kasai, butô já não era apenas um estado místico, mas teria muito a ver com o que chamou de "anarquismo, reforma social e o entendimento da relação corpo/ambiente". Segundo o mestre, não há um sistema central que movimenta o corpo, controlando-o. O "anarquismo do corpo" é justamente a proposta de experimentar cada parte do corpo como se tivesse uma existência própria. Essa descentralização encontra as suas soluções em termos de padrões de movimento no trânsito entre corpo e ambiente. Por isso, para formatar o seu estudo, nunca se amparou apenas no butô, mas também na eurritmia de Waldorf. Esta técnica busca uma conexão entre o som das palavras e o corpo humano, podendo ser desenvolvida por crianças, adultos e idosos. Para Kasai, a arte sempre foi uma "arte da matéria", vivendo no corpo e movendo a sua existência como uma linguagem, um processo de comunicação. Nesse sentido, Setsuko não abandona o que aprendeu em suas primeiras lições, mas aprofunda a proposta e, a partir de 79, roda o mundo com o seu trabalho, sendo aplaudida em países como Inglaterra, França, Coréia, Espanha, Estados Unidos, Canadá e Rússia, entre outros. Em 94, ela recebe uma bolsa para estudar em Nova York e as aproximações com a dança contemporânea ocidental, já presentes em sua obra, são fortalecidas. Colabora com músicos como Jean-Michel Jarre (em 1988/89, em Londres e Paris), o compositor norte-americano Carl Stone (Tóquio, 1988) e o percussionista Toshi Tsuchitori (Saitama, 1995). Além de todas as razões habituais que nos levam ao teatro para assistir a bons espetáculos, é interessante conhecer o mais recente trabalho de Setsuko para entrar em contato com uma das vertentes da dança contemporânea no Japão. A sua obra colabora para uma discussão recente em torno das novas dramaturgias do corpo, investigando, sem fórmulas prontas, as suas mudanças de estado. Desde a estréia (em maio do ano passado), Land Dreams tem sido admirada no Japão e nos Estados Unidos. Mas quem estiver esperando uma apresentação de butô, cheia de posições grotescas, eróticas ou macabras, será surpreendido pela delicadeza dessa coreógrafa-intérprete que tem escapado de qualquer rótulo pré-concebido. Em vez de apresentar um corpo em crise, Setsuko elabora, a partir de diferentes conexões com a contemporaneidade, um corpo fluído, com aptidão para projetar paisagens invisíveis, a partir da relação entre o seu corpo de intérprete, o palco e a platéia. Na eclética trilha sonora, há duas músicas da brasileira Marlui Miranda: 15 Variações de Hai Hai Hai e Naumu. Após a apresentação em São Paulo, a coreógrafa segue para Curitiba onde participa do 1º Encontro de Novas Dramaturgias do Corpo. Durante o evento, terá um encontro aberto ao público com a brasileira Vera Sala para falar sobre os novos rumos das experimentações em dança contemporânea. Setsuko Yamada - Segunda, às 21 horas. R$ 5,00. Teatro Sesc Anchieta. Rua Dr. Vila Nova, 245, em São Paulo, tel: (11) 234-3000.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.