Sete disputam vaga de Roberto Campos na ABL

Entre eles estão o cientista político Hélio Jaguaribe, o escritor Paulo Coelho, os diplomatas Mário Gibson Barbosa e Pio Correia e o sertanista Orlando Villas Boas

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Por Agencia Estado
Atualização:

Se a eleição da escritora Zélia Gattai para a vaga da Academia Brasileira de Letras que foi de seu marido, Jorge Amado, parece definida, o mesmo não acontece com a substituição do economista Roberto Campos. Já estava difícil fazer previsões até a semana passada, quando havia quatro candidatos fortes: o cientista político Hélio Jaguaribe, o escritor Paulo Coelho e os diplomatas Mário Gibson Barbosa e Pio Correia. Tornou-se impossível com a inscrição do sertanista Orlando Villas Boas, oficializada na última sexta-feira. Agora são sete candidatos (há também João Ricardo Moderno e Oliveiros Litrento) e ainda faltam 45 dias para o termino das inscrições. ?Embaralhou tudo. Entramos agora na fase do mistério, em que ninguém quer dizer nada contra ou a favor porque tudo pode mudar de uma hora para outra. Para que assumir compromissos agora e mudar de opinião se chegar outro nome expressivo como o Orlando Villas Boas??, comenta o professor Arnaldo Niskier, considerado um dos padrinhos da candidatura de Paulo Coelho. ?Esses nomes só enriquecem a disputa, mas todos os candidatos podem angariar pelo menos dez votos e isso não elege ninguém. Ainda bem que faltam cinco meses para a eleição, com um recessso no meio, um tempo para todos pensarmos.? Os candidatos sentem o baque, mas preferem não mostrar desânimo ou entusiasmo. Hélio Jaguaribe, por exemplo, diz que não faz propriamente campanha, ?até porque essa eleição não comporta?. Ele se limitou a apresentar sua candidatura e a mandar carta e telegrama a todos os acadêmicos, com sua biografia e a exposição de motivos por que quer ser um deles. Jaguaribe conta ser candidatado por insistência de amigos imortais como Cândido Mendes, Celso Furado, Alberto Costa e Silva, Venâncio Filho e o padre Fernando Ávila. Mas não consegue evitar uma farpinha ao comentar a candidatura de Villas Boas. ?Ele é uma figura eminente da vida brasileira e um benemérito, mas não conheço sua obra literária.? Por esse lado, o sertanista está embasado, com 14 livros publicados, todos sobre a questão indígena, bandeira que abraçou por toda a vida, junto com os irmãos, Cláudio e Orlando, já falecidos. Entrar para a academia é uma forma de chamar atenção para essa obra familiar, mas Villas Boas é blazé ao falar da possibilidade de vitória. ?Foi idéia de meus filhos, muito mais letrados que eu?, esclarece ele, que nem se considera escritor. ?Meus livros nunca tiveram pretensão ou intenção literária. Sempre foram relatos das experiências vividas por meus irmãos e por mim. Só me candidato porque acho que a literatura brasileira está muito urbana e precisa voltar-se para o sertão.? Mário Gibson Barbosa exerce a diplomacia, sua atividade por mais de 50 anos, ao referir-se aos outros candidatos. ?Concorrer com esses nomes já honra o meu currículo e, se consideraram que estou em campo, é motivo de uma certa vaidade?, comenta ele, que já visita acadêmicos, para cumprir o que chama de ritual ético do candidato. Ele tem cabos eleitorais importantes, como o poeta Ledo Ivo que, logo após a sessão da saudade para Roberto Campos, mandou os repórteres ouvirem o embaixador. ?Ele vai criar uma certa confusão nesse pleito. Vai embaralhar as coisas?, disse Ivo. Já Paulo Coelho, que está na Europa, cumprindo compromissos profissionais e editoriais, têm mandado cartas aos imortais, mas um cabo eleitoral dele, que prefere ficar anônimo, não esconde sua preocupação. ?A presença física é importante e, no fim do ano, quando ele voltar, pode encontrar muita gente já comprometida com outras candidaturas. Até porque todos os nomes são adequados à Academia.? Correndo por fora, o embaixador Pio Correia tem pelo menos un trunfo, segundo Arnaldo Niskier. ?É um nome forte e já mostrou prestígio, pois concorreu em outra ocasião e teve seis votos, o que não é pouco.? Anti-candidato - A eleição do substituto de Roberto Campos, só ocorre em 21 de março de 2002, mas a próxima, para a cadeira de Jorge Amado, está marcada para 7 de dezembro e tem 13 candidatos, desde o colunista social Jeff Thomaz à ensaista e escritora Ieda Otaviano, que volta e meia pleiteia a imortalidade. No entanto, a vitória de Zélia Gattai está consolidada, segundo outro acadêmico que também pede anonimato. ?Na quinta-feira passada, fechamos o quórum de 19 votos, com a adesão das escritoras Nélida Piñon e Rachel de Queiroz, o que é importante porque teremos todas as mulheres imortais votando nela. A Lygia Fagundes Telles foi seu segundo voto declarado, logo após o José Sarney?, diz. ?Cada eleição tem que ser cuidada a seu tempo. Com a Zélia eleita, vamos começar a pensar na vaga de Roberto Campos.? Até o candidato mais cotado para fazer frente a Zélia, o jornalista e escritor Joel Silveira, admite que ela está eleita, mas não retirou a candidatura. Silveira foi o nome da ocasião entre acadêmicos que não queriam a eleição da viúva de Jorge Amado como parte do herança dele. ?Fui o anti-candidato e acabei ganhando apoios que nem esperava. Agora, se tiver cinco votos, vai ser muito bom. Minha intenção era quebrar o serviço da Zélia, pois não me conformava com sua reivindicação de substituir Jorge Amado só por ser sua viúva. Isso nunca aconteceu na Academia.? Esta é a segunda vez que Silveira se candidata. No ano passado, pleiteou a vaga de Barbosa Lima Sobrinho, mas retirou-se ao saber que Raimundo Faoro também a queria. ?Ele tem muito mais cabedal que eu e não tem graça tirar uns votinhos de alguém tão expressivo?, filosofa. Já substituir Roberto Campos Roberto Campos e impensável para Silveira. ?Além de estar impedido por já ser candidato a outra vaga, imagina se eu tivesse que fazer o elogio a Campos, cujas idéias sempre combati? Deixo essa tarefa para outros que estão mais de acordo.?

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