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Sesi patrocina nova montagem de "Hamlet"

Adaptação da obra de Shakespeare dirigida por Francisco Medeiros tem estréia prevista para agosto. Marcos Damigo viverá o atormentado príncipe da Dinamarca

Por Agencia Estado
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Está começando a tomar forma em São Paulo uma nova versão da mais célebre das tragédias de William Shakespeare (1564-1616): Hamlet. A história do príncipe da Dinamarca que não consegue vingar o pai, assassinado pelo próprio irmão, estreará no início de agosto, no Teatro do Sesi, em São Paulo, numa versão dirigida por Francisco Medeiros (Fim do Jogo). Os cenários e figurinos serão de Márcio Medina. E o príncipe será vivido pelo ator (Suburbia) e autor (Cabra) Marcos Damigo, de 25 anos, ex-estudante de Agronomia que vai encarar o maior desafio de sua ainda curta e intensa carreira. Não há obra shakespeariana tão representada e adaptada quanto Hamlet. O interesse que desperta no público é palpável. À simples menção do título da peça, o programa de busca www.Google.com apresenta 453 mil documentos ou links disponíveis (em inglês e português) na Internet. No Brasil, durante muito tempo o texto foi tabu. Ninguém ousava produzi-lo. E mesmo depois da histórica montagem de Paschoal Carlos Magno, na década de 40, em que Sérgio Cardoso se consagrou, foi preciso esperar mais de duas décadas para que Walmor Chagas se aventurasse no papel. Em seguida as encenações da obra tornaram-se mais freqüentes. E passaram pela prova de fogo, entre outros, Celso Frateschi, Marco Ricca, Marcelo Drummond e Diogo Vilela, que produziu a mais recente versão, em 2001. Francisco Medeiros acredita que uma das razões pela qual o espetáculo foi incluído na programação do Teatro do Sesi para 2002 é que é sua idéia olhar para Hamlet da perspectiva do jovem. Ele deseja observar, com o auxílio da peça, a atitude dos jovens "ante o desencadeamento da crise de uma nação". Explica: "Quando a lama emerge, cada um toma uma atitude, e isso Shakespeare mostra com enorme nitidez." Hamlet é considerado, a partir de uma informação contida no quinto ato do texto, um papel para atores com mais de 30 anos. Esse dado acaba elevando a faixa etária dos demais personagens. "Mas podemos pensar em um Hamlet mais jovem", diz Medeiros, "e descobrir o que emerge da peça a partir desse dado." Não só o elenco da tragédia será formado por atores jovens. O Sesi quer também atingir a uma platéia jovem. "Parte da temporada será para estudantes", informa o diretor. "Haverá monitoria, e pretende-se conversar com eles, aquilatar como eles percebem o problema que Shakespeare apresenta." Marcos Damigo, que trocou os estudos de Agronomia pela Escola de Arte Dramática, garante que a montagem não parte de vaidade: "Com ela, queremos instigar, provocar. Foi ótimo o Sesi ter aceitado o projeto. Os ingressos são gratuitos e o teatro atrai um público diferenciado." Ele diz que o objetivo da produção é comunicar: "Queremos levar essa história para todo mundo, pegar quem costuma ir ao teatro e quem nunca foi." E o que há a ser comunicado? "Uma obra gigantesca", diz Medeiros. "Não podemos esquecer que Hamlet é uma figura pública, um representante do poder. E até que ponto está preparado para assumi-lo?" Para o diretor, "a Dinamarca que se vê na peça está sob estado de sítio, como nós, como o mundo, hoje. A história se passa em um país governado por um rei ilegítimo, corrupto, que mata ou manda matar quem atravessa seu caminho". Será um longo processo de criação. Na verdade, teve início em meados do ano passado, quando Medeiros, Damigo e Rosana Seligmann (Suburbia), que fará Ofélia, começaram a elaborar o projeto que em dezembro foi aprovado pelo Sesi. "Desde então estamos estudando, lendo muito, navegando na Internet em busca de material", diz Damigo, que além das produções recentes de Hamlet viu, entre outros, os filmes com Laurence Olivier, Mel Gibson, Kenneth Brannagh e Ethan Hawke. Damigo diz que gosta de se testar, como ator. E de aprender. Por isso, não hesitou em aceitar convites do SBT para atuar em Fascinação, novela que foi ao ar em 2000, e em 2001, chamado pela Globo, atuou no program Sandy & Júnior. Hamlet, para ele, é o "desafio, a possibilidade de crescimento". Márcio Medina, cenógrafo e figurinista de trânsito internacional (cria espaços há mais de dez anos para o Centro de Pesquisa Teatral de Pontedera, na Itália), será o responsável pelo visual do Hamlet. E sabe bem o que não quer. "Não vamos vestir os atores como motoqueiros, nem de terno. Também não imagino um espaço muito dark, embora seja preciso pensar na questão do luto (de Hamlet, pela morte recente do pai). O mais importante é criar um cenário que apóie a encenação." O Sesi destinou à produção de Hamlet, assinada por Damigo, Medeiros e Seligmann, R$ 350 mil para a montagem. "Isso é para cobrir tudo, da produção à folha de pagamento, desde o período de ensaios, que se inicia em março, até os quatro meses de temporada, que vão se encerrar em dezembro, e com um elenco de 12 a 15 atores", diz Medeiros. Já estão também certos no elenco os nomes de Plínio Soares, Luciano Gatti e André Custódio. Outros atores estão sendo contatados agora. A montagem vai dividir o palco do Sesi com outra peça de Shakespeare, Romeu e Julieta, dirigida por William Pereira.

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