Sesc Pompeia abriu as portas para a arqueologia industrial, diz arquiteto

Conjunto, que foi tombado na quinta-feira, 5, pelo Iphan, é um símbolo do lugar de respeito e de urbanidade, diz ex-assistente de Lina Bo Bardi

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Por Jotabê Medeiros
Atualização:

Assistente de Lina Bo Bardi no projeto do Sesc Pompeia, o arquiteto Marcelo Carvalho Ferraz comemorou o tombamento do edifício, obra iniciada em 1976 numa antiga fábrica de tambores e concluída em 1986.

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“O tombamento ainda se justifica mais e mais quando olhamos para o Sesc Pompeia e vemos ali um pedaço do tecido urbano sadio, um pedaço de cidade-cidadela que deu certo: sem automóveis, com usuários de todas as faixas etárias, classes sociais, nível de escolaridade, todos convivendo harmonicamente, democraticamente”, afirmou o arquiteto, que acompanhou a reunião em Brasília, na tarde dessa quinta-feira, 5, na Sede do Iphan, durante a 78ª reunião do conselho.

Segundo Ferraz, o Sesc se tornou “lugar do respeito, lugar de urbanidade”, um símbolo que, “neste momento de crise da qualidade de vida nas metrópoles”, tornou-se “um farol para todo governante observar e tentar entender porque é que funciona”. “Sua singularidade é deixar a cidade entrar sem cerimônia. Isso é a verdadeira acessibilidade, aquela que convida, não inibe e nem segrega. Claro que estar dentro de uma antiga fábrica cheia de história faz diferença, não é? Você não começa do zero”.

O Sesc, segundo o arquiteto, é um dos exemplos mais bem sucedidos de reaproveitamento da arquitetura industrial em desuso do final do século 19 e início do século 20 para outros fins que não o originalmente concebido. É um exemplo pioneiro mundial da chamada “arqueologia industrial”, assinalou. 

“Assim numa cidade entulhada e ofendida, pode, de repente, surgir uma lasca de luz, um sopro de vento. E aí está, hoje, a Fábrica da Pompeia, com seus milhares de frequentadores. As filas da choperia, o ‘Solarium-Índio’ do deck, o Bloco Esportivo, a alegria da fábrica destelhada que continua”, dissera na época a arquiteta Lina Bo Bardi.

O tombamento do conjunto construtivo do Sesc Pompeia foi aprovado com unanimidade pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural. O pedido da inclusão na relação de bens protegidos fora feito quando o Sesc Pompeia completou 30 anos de atividades. A justificativa é de que o Sesc Pompeia seja integrado ao patrimônio cultural nacional por ser considerado um marco da arquitetura brasileira e por seus valores técnicos e estéticos, em especial pelas intervenções em sua estrutura, desenvolvidas por Lina Bo Bardi.

A arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi, também autora de outro símbolo de São Paulo, o Masp, buscou no projeto conciliar as antigas estruturas industriais e o novo uso do local, o de lazer. “Além disso, trabalhou a inserção de novos volumes arquitetônicos de forma harmônica com seu entorno, mantendo a leitura do tecido urbano, de forma a preservar a memória operária e permitindo, ainda, a criação de um espaço aberto à população, garantindo o convívio coletivo já existente no local”, assinala o Iphan.

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“O conjunto é marcado pela brutalidade dos blocos de concreto, quebrada pelos rasgos irregulares do bloco das quadras ou pelos vãos assimétricos do bloco dos vestiários. É composto, ainda, por passarelas que ligam os blocos, formando uma paisagem leve devido ao posicionamento único de cada uma”. O instituto anota que, apesar de ter sofrido algumas alterações, não houve descaracterização do edifício, que está em bom estado de conservação e preservação.

O Conselho, que avalia os processos de tombamento e registro, é formado por especialistas de diversas áreas, como cultura, turismo, arquitetura e arqueologia. Ao todo, são 23 conselheiros que representam instituições como o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), o Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos), a Sociedade de Arqueologia Brasileira (SAB), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o Ministério da Educação, o Ministério das Cidades, o Ministério do Turismo, o Instituto Brasileiro dos Museus (Ibram), a Associação Brasileira de Antropologia (ABA) e mais 13 representantes da sociedade civil, com conhecimento nos campos de atuação do Iphan.

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