Sertão em olhar curtido pelo tempo

Tiago Santana retrata o homem e sua relação com a terra em novo trabalho

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Por Redação
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O homem, a terra. O homem que se confunde com a terra. Pode parecer banal, mas também se transformar em poesia se este tema é narrado pelas fotografias de Tiago Santana. Contador do Nordeste, Santana, desde que se iniciou na fotografia no final dos anos 1980, relata a vida dos romeiros, dos habitantes do sertão, da terra onde nasceu e se criou, à exemplo de grandes escritores como Graciliano Ramos. E é esta a história que lhe interessa. Não como uma reportagem jornalística, mas como uma possibilidade de ampliar o imaginário.

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Inscrito na mais tradicional escola de documentarismo que caracteriza de alguma forma a fotografia cearense, Santana é o segundo autor brasileiro (o primeiro foi o Sebastião Salgado) a ser inserido na famosa coleção de livros de fotografia francesa PhotoPoche, criada em 1982 no Centre Nationale de la Photographie, pelo Editor Robert Delpire, e um dos projetos editoriais em fotografia mais difundidos do mundo, com mais de 150 livros, publicados em 3 coleções (História, Notas e Sociedade). Seu livro

Sertão

(Actes Sud, 12,80 euros) acaba de ser lançado em Paris.

O encontro entre autor e editor aconteceu em julho de 2007. "Ele conhecia meus livros Benditos e Chão de Graciliano e me disse que gostava muito da minha forma de fotografar", conta Santana por e-mail. "Para minha surpresa me fez o convite para entrar na Coleção Photo Poche, com meu trabalho sobre o sertão."Quatro anos depois, com o número 17 da coleção Société, Tiago Santana nos apresenta um belíssimo ensaio sobre o sertão nordestino. A força de suas imagens também chamou a atenção do escritor cubano residente na França Eduardo Manet, que escreve o prefácio do livro: "Cada fotografia de Tiago Santana nos coloca frente a um enigma. Melhor: frente a enigmas fascinantes". Mistério. Santana nasceu no Crato, em 1966. Começou a trabalhar como fotojornalista e fotografo documentarista em 1989 e, desde então, publicou obras importantes, como Benditos (2000), Brasil sem Fronteiras (2003) O Chão de Graciliano (2006) e O Sertão Dentro de Mim (2010). Em 1994, fundou a editora Tempo de Imagem.Num mundo cheio de redundâncias, de imagens que se plagiam a si mesmas e que aos poucos vão perdendo sua característica de linguagem e, portanto, de comunicação, a fotografia de Tiago ainda é capaz de surpreender, de nos tocar. "Procuro encontrar uma forma de contar histórias com sutileza, estranheza, mistério. Busco na singularidade daquelas pessoas, em seus lugares, olhares e paisagens que me inquietam e me impulsionam a fotografar, como se quisesse não só desvelar algo, mas também criar". E assim é. Suas fotografias que à primeira vistas parecem tomadas singelas vão aos poucos crescendo à nossa frente trazendo por meio de metáforas uma riqueza de detalhes sutis que esperam ser recriados por nós.O sertão de Santana Santana não é exótico. É um olhar diferenciado de quem habita a região, mas que ao mesmo tempo também procura entendê-la e recriá-la. "Vejo meus trabalhos como uma busca do encontro com o outro, como se, na tentativa de compreender um pouco sobre o outro, pudesse me (des)conhecer também". Nas suas fotografias, o tempo se coloca de forma clara. Um tempo de amadurecimento, de pesquisa, de criação. É esta aliás a forma que Santana entende a montagem de um projeto. "O tempo é fundamental na construção de uma obra que tenha força e coerência com o processo de criação do autor. O resultado virá normalmente se soubermos respeitar este tempo. Tempo que, acima de tudo, é parte do próprio processo de construção de imagens." E é este mesmo tempo que acabou criando esta fábula que Santana nos conta sobre sua região. "Uma narrativa onde o autor se coloca, se entrega, se expõe com intensidade."SERTÃOAutor: Tiago SantanaEditora: Actes Sud (12,80 euros)

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