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Série reúne intelectuais para discutir o País

Antonio Candido abre amanhã Intérpretes do Brasil, da TV Cultura e Arte, debatendo as origens e as transformações do mundo caipira

Por Agencia Estado
Atualização:

Há algo de admirável na fala de Antonio Candido e Antonio Risério. Não é só a erudição desses estudiosos, a segurança com que eles falam sobre assuntos diversos. É a serenidade com que se expressam. Numa época em que as pessoas tentam impor suas idéias no grito, esses mestres dão uma admirável lição de civilidade na série Intérpretes do Brasil. É uma criação do Ministério da Cultura especialmente formatada para a TV. Vai ao ar a partir de amanhã na TV Cultura e Arte. Os programas de 20 minutos serão exibidos, semanalmente, às terças-feiras, às 22 horas, com reprise nas quartas e quintas, às 18 horas e 12 horas, respectivamente. A série de 11 programas começa amanhã com a exibição de Os Caipiras. É conduzido pela narrativa de Antonio Candido Mello e Souza, professor de Teoria Literária na Universidade de São Paulo. Logo no começo, quando a imagem de Antonio Candido bate na tela, um letreiro informa data de nascimento e sua qualificação profissional. É só. O programa, não apenas esse, mas a série toda, não aborda a biografia do intelectual, por mais respeitável que ele seja, nem pretende esgotar os assuntos em questão. "O que a série se propõe é a instigar e sugerir", informa Isa Ferraz, idealizadora e diretora da série produzida por Zita Carvalhosa. Por que os intérpretes do Brasil? Não é uma série sobre cantores, como você pode pensar, mas uma interpretação do Brasil e de sua cultura feita por intelectuais com atuação em diversas áreas de especialidade. Antonio Candido fala amanhã sobre o mundo caipira. Na semana que vem, Judith Cortesão investiga a relação entre Portugal e Brasil, colonizador e colonizado. No dia 4, Antonio Risério fala do sebastianismo medieval que ainda sobrevive entre os sertanejos. O programa se chama, sugestivamente, Viva o Sertão. Para o secretário José Álvaro Moisés, do Audiovisual, a série de 11 programas quer levar o público "a perguntar-se quem somos nós, os brasileiros, e que País é esse, o Brasil." Moisés não é só secretário do Audiovisual. Também é diretor da TV Cultura e Arte, criada com o objetivo de promover a cultura do País. Atualmente, 68 operadoras ligadas à TVA, à NeoTV e à Net, além de operadoras independentes, distribuem a programação. A TV Cultura e Arte não fica permanentemente no ar. É transmitida de segunda a sexta, das 12 horas às 14 horas, das 18 horas às 20 horas e das 22 horas à meia-noite. Aos sábados e domingos, das 12 horas às 15 horas, das 17 horas às 20 horas e das 21 horas à meia-noite. A programação também está, à noite, na DirecTV, na Sky e na TecSat. E, se você quiser mais informações, pode consultar o endereço eletrônico: tvculturaearte@minc.gov.br. Zita Carvalhosa esclarece que Intérpretres do Brasil é conseqüência de outra série, O Povo Brasileiro, também idealizada e dirigida por Isa Ferraz. As entrevistas com grandes intelectuais brasileiros, para aquela série, ficaram tão boas (e foram tão pouco usadas) que Isa e ela formataram a nova série para aproveitar as "sobras". Nada melhor que o mergulho no mundo caipira proposto por Antonio Candido para abrir a programação. Ele começa com uma ressalva: emprega-se, hoje, a definição de "caipira" para qualquer indivíduo sem traquejo social, dotado de cultura tosca ou sem cultura nenhuma. Não é essa conotação do caipirismo que lhe interessa. O caipira em discussão é o habitante do mundo rural, especialmente nas áreas de São Paulo, Minas, Goiás, Mato Grosso e parte do Paraná, com afinidades no Rio e no Espírito Santo. Produto da miscigenação do português com o índio e com contribuição do elemento africano, o mundo caipira interessa a Antonio Candido por haver sobrevivido às pressões da sociedade de consumo e também por trafegar entre o campo e a cidade. Antonio Candido analisa o tipo de vida do caipira, a sua cultura, as transformações pelas quais ela passou. As imagens do programa foram feitas em São Paulo e Minas. Ilustram os comentários do especialista. A propósito, cabe uma observação. No recente encontro para discutir o documentário, promovido pelo canal GNT no Rio - o Brasil Documenta -, um dos temas em pauta foi a presença do narrador nos documentários. Cada vez os documentários recorrem menos a essa figura, o narrador, o especialista. Uma exceção foi Casa Grande & Senzala, de Nelson Pereira dos Santos, baseado na obra de Gilberto Freyre. Outra é essa série de documentários. Ainda bem: Antonio Candido é um grande intérprete do Brasil. Intérpretes do Brasil. Terça, às 22 horas, com reprise nas quartas e quintas, às 12 e às 18 horas. TV Cultura e Arte.

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