Série refaz trajetória de Monarco

Aos 77 anos, símbolo da Portela, sambista está acostumado a não ser reconhecido na rua

PUBLICIDADE

Por Roberta Pennafort
Atualização:

RIO - Toda noite, o Brasil canta Coração em Desalinho com Maria Rita na abertura da nova novela das 21 horas, Insensato Coração. Mas, à exceção dos iniciados no mundo do samba, poucos são os que reconhecem seu autor ao vê-lo passar na rua. Aos 77 anos, símbolo da Portela, sucesso nas vozes de Zeca Pagodinho, Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Clara Nunes, Beth Carvalho, Roberto Ribeiro e João Nogueira, Monarco está acostumado."Quando fiz essa música (com o parceiro Ratinho, que morreu há três meses), não sabia que ia chegar aonde chegou. É bom ver todo mundo cantando, emocionalmente e financeiramente. Nenhum disco me deu dinheiro", diz o compositor de Vai Vadiar (também com Ratinho), samba que, estima, até que lhe rendeu um "dinheirinho simpático, uns R$ 10 mil".Hoje, às 20 horas, para sua alegria, o primeiro LP, Monarco, de 1976, será celebrado no Instituto Moreira Salles, no Rio, numa série que refaz o percurso de grandes momentos da discografia nacional - o primeiro, em outubro, relembrou os 30 anos de A Arte Negra de Wilson Moreira e Nei Lopes. O pesquisador musical e escritor Sérgio Cabral vai apresentar sua história, e Monarco irá cantá-lo por inteiro, de O Quitandeiro a Enganadora, passando pelas bem conhecidas Lenço e Tudo Menos Amor. São sambas de melodias contagiantes e letras tão simples quanto belas, que falam de amores desfeitos, rancor, paixão e até presta uma homenagem à Mangueira, "fiel companheira de Osvaldo Cruz (território da Portela)". Coração em Desalinho e Vai Vadiar não devem faltar.São músicas que o acompanham nos muitos shows que faz no Rio e em São Paulo - à plateia paulistana, avisa: até o fim de fevereiro estará no Bar Brahma, às sextas-feiras. "É cansativo, mas a gente precisa. Estão me reconhecendo aos poucos. Não reclamo. Muitos são reconhecidos no fim da vida, como Cartola e Nelson Cavaquinho; uns morreram sem isso. Não estou tão no anonimato quanto em 1976."À época, ele trabalhava manobrando carros no estacionamento do Jornal do Brasil. Um dia, foi identificado por um jornalista frequentador da Portela, que o levou à Continental (já era rei na escola, que o fez baluarte de sua Velha Guarda). Gravado com grandes músicos, o disco ainda ganhou capa do cartunista Lan. A partir dali, ainda que penasse para sustentar a família à base de música, deixaria definitivamente o apelido tomar o lugar do nome de batismo, Hildemar Diniz. "Cheguei à conclusão de que fazia samba melhor do que parava os carros."

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.