Série de TV faz reconstituição do golpe de 64

TV Câmara exibe a partir de hoje Contos da Resistência. Para retratar a invasão do Congresso pelos militares, em 66, produção usou 20 seguranças no papel de soldados, além de jipes e armas emprestadosVeja o especial "Março de 64 - 40 anos esta noite" Assista a vídeo de "Contos da Resistência"

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Numa mistura de História, poesia e metáforas, e com cenas de produção própria, como a da invasão do Congresso pelos militares em 1966, a TV Câmara leva ao ar hoje, a partir das 22 horas, o primeiro de quatro episódios da série Contos da Resistência, sobre o golpe militar de 31 de março de 1964, que completa 40 anos. Para interpretar os soldados invasores, foram utilizados 20 seguranças da Câmara. As cenas, que tiveram também jipes e armas emprestados, foram gravadas na sexta-feira. Durante a invasão, há 38 anos, os militares cortaram a luz e os telefones do Congresso. A tumultuada sessão do Congresso em que o presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, declarou vago o cargo de presidente da República, logo depois do golpe, será mostrada como uma metáfora poética. A equipe de produção da TV aguardaria o fim da sessão da Câmara de ontem para filmar o plenário vazio. "É uma outra forma de mostrar o anúncio da vacância do cargo do presidente", diz o diretor da Produção e chefe do Núcleo de Vídeos Especiais da TV Câmara, Getsamane Silva. Convidados especiais do presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), vão assistir ao primeiro episódio hoje às 19 horas, no plenário da Comissão de Constituição e Justiça. A presidência da Câmara distribuiu convites limitados, porque na sala cabem menos de 100 pessoas. Ao todo, foram colhidos 64 depoimentos de pessoas que tiveram papel na resistência ao golpe, entre elas o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Frei Betto, Fernando Gasparian, Hélio Bicudo, d. Paulo Evaristo Arns, Carlos Eduardo Novaes, José Luiz Guedes e Carlos Heitor Cony. A TV Câmara bancou as viagens a seis capitais para a tomada dos depoimentos. Os gastos de produção com as equipes de filmagens, como a da invasão do Congresso, vão ser pagos pela Caixa Econômica Federal, bem como os convites para a sessão inaugural. Os episódios vão abordar as articulações de todos os segmentos da sociedade para se contrapor ao governo autoritário; as organizações sociais de estudantes, trabalhadores e religiosos para lutar pela democracia; a resistência política no Congresso; a crítica inteligente e criativa das artes e da imprensa; a repressão e a tortura e o movimento social pelas eleições diretas em 1984. Censura - O terceiro episódio, que será exibido na sexta-feira, trata da censura às artes e à imprensa. Serão mostradas páginas de jornais da época e a forma como todos procuravam fugir do olho vigilante do censor. A edição de 2 de junho de 1977 do Jornal da Tarde, por exemplo, mostra uma reportagem criativa respeito dos próprios censores. O título é "As fotos e os nomes dessa reportagem estão vetados". É a censura. Abaixo, há vários quadros. Num deles, é dito: "Mas também estou aqui por causa do dinheiro. O salário é bom." Claro que o JT não deu o nome do autor da frase. Em seguida, é dada uma explicação sobre o trabalho dos censores: "Não podem dar entrevistas. Muito menos se deixam fotografar. E querem provar que são necessários, cultos, inteligentes. Tanto que passam por cursos e provas para exercerem um cargo que muitos estão disputando."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.