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Série dá voz a mestres do cinema

Bernardo Bertolucci, Peter Greenaway e Jeanne Moreau são os entrevistados de Fotogramas do Mundo, que o canal Cultura e Arte exibe a partir de domingo

Por Agencia Estado
Atualização:

Cinéfilos sabem quem eles são: os diretores Bernardo Bertolucci e Peter Greenaway, a atriz e diretora Jeanne Moreau. Pois agora você vai saber um pouco mais, graças a uma série produzida para o canal do Ministério da Cultura, o Cultura e Arte, cuja programação é transmitida por 68 operadoras, em todo o Brasil. "Fotogramas do Mundo" é uma série de 22 programas que irá ao ar todos os domingos, a partir de deste, com reprises em dois horários, aos sábados. A série de programas é dirigida por Marco Altberg, que também é o responsável pela Revista do Cinema Brasileiro, no Canal Brasil, da Net/Sky. Vera Zimmermann apresenta a série toda. Começa com Bertolucci e a única crítica que já se pode fazer é justamente quanto ao cronograma de apresentação desses programas. Eles são curtos - 12 minutos cada - e a TV Cultura e Arte optou por dividir as entrevistas em blocos de dois. Assim, a primeira parte da entrevista com o diretor de Último Tango em Paris e Assédio vai ao ar neste domingo e a outra no próximo, dia 23. A primeira parte do programa com Jeanne Moreau será exibida no dia 30 e a segunda em 6 de janeiro. A primeira parte com Greenaway no dia 13 e a segunda no dia 20. É um prazo muito longo entre uma entrevista e outra, uma semana inteira, considerando-se que são apenas 12 minutos para absorver os ensinamentos de artistas que têm contribuído para o desenvolvimento do cinema como arte e cultura e não apenas como produto comercial para consumo. As entrevistas pertencem ao acervo da Associação Revista do Cinema Brasileiro e foram realizadas ao longo dos anos 90, no Rio, em Cannes, onde quer que a câmera de Altberg conseguiu encontrar essas figuras tão destacadas (e expressivas) do cinema atual. Bertolucci é apresentado como o diretor italiano mais importante da geração pós neo-realismo. Talvez não seja. Não se pode esquecer que, na Itália, houve o fenômeno Pier-Paolo Pasolini, comparável ao furacão Glauber Rocha, que assolou o Brasil, e não apenas o cinema brasileiro, nos anos 60 e 70. Como Glauber, Pasolini foi além da condição de diretor de cinema. Foi um provocador, um agitador e também um catalisador, capaz de agrupar em torno dele a inteligência nacional, levando-a a participar de um projeto coletivo de arte e política. Eram os anos em que se podia sonhar com o cinema mudando o mundo, desmontando as estruturas arcaicas, criando o utópico (e admirável) mundo novo. Glauber e Pasolini morreram, Bertolucci entrou para a academia e foi filmar para Hollywood, senão exatamente em Hollywood. O mundo chegou ao atual estágio da economia globalizada, em que liberdade realmente virou uma calça azul e desbotada e hoje a única liberdade que existe é a de escolher o que se vai consumir. Logo na abertura de sua entrevista, Bertolucci define o cinema como o único sonho que as pessoas podem ter coletivamente. No escurinho do cinema, todos sonhamos a mesma coisa, o filme. Ele analisa sua obra, destaca o fascínio pelo Oriente que o levou a conceber sua trilogia oriental - O Último Imperador, O Céu Que nos Protege e O Pequeno Buda -, conta o que representa a volta à Itália, para fazer de novo filmes enraizados na história e na cultura do seu país. Conta que vai fazer a terceira parte do épico 1900. E explica: a vitória da direita nas eleições italianas, à frente o Cavalieri Silvio Berlusconi, deve ser creditada ao eleitorado jovem e se os jovens votaram nele foi porque a escola e a esquerda falharam. Se Bertolucci quer fazer a terceira parte de 1900 é para prosseguir com a sua leitura engajada da história italiana, estendendo ao século 21 a reflexão que, até agora, cobriu apenas a primeira metade do século 20. Bertolucci sonha em devolver ao cinema sua função social e política. Jeanne Moreau evoca os caros amigos. Ela diz que nunca planejou nada em sua vida. Tudo veio por meio de encontros fortuitos. Namorava Louis Malle e ele lhe apresentou François Truffaut, interpretou uma peça de Peter Handke e ele lhe trouxe a amizade de Wim Wenders. Orson Welles e Michelangelo Antonioni foram vê-la na Comédie Française. São histórias de amizades e esses amigos são todos grandes diretores, que ofereceram à atriz grandes papéis. Greenaway lembra o passado como pintor e diz que as novas tecnologias lhe permitem trabalhar a textura da imagem de um jeito impossível de fazer com película. Arte e vida se misturam nesses depoimentos. Fotogramas do Mundo passa a ser uma bela referência para cinéfilos. Além desses, os próximos programas trazem entrevistas com Krzysztof Kieslowski, Louis Malle e Isabelle Huppert, entre outros. Fotogramas do Mundo. Domingos, às 21h50. TV Cultura e Arte.

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