Série cult "Ken Parker" é reeditada 26 anos depois

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Por Agencia Estado
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Um dos mais importantes autores dos quadrinhos está em São Paulo para o relançamento de uma série cult, idolatrada nos quatro cantos do planeta: Ken Parker. O autor é o desenhista italiano Ivo Milazzo, que criou o personagem nos anos 70 com o argumentista Giancarlo Berardi. Neste sábado, na livraria Comix Book Shop (Alameda Jaú, 1998), Milazzo lançará o quarto episódio da série Ken Parker, Homicídio em Washington, e autografará os gibis, que estão sendo relançados pela Tendência Editorial com capa dura e tratamento gráfico sofisticado. Em visita à redação do Estado, na segunda-feira, Milazzo disse que o relançamento é precioso principalmente para as novas gerações, que não tiveram acesso ao personagem. Ken Parker foi publicado pela extinta editora Vecchi no Brasil entre 1978 e 1983. "Quando fiz Ken Parker, a preocupação era não fazer um western", conta Milazzo. "O cinema e os quadrinhos já estavam inflacionados pelo gênero", pondera. Segundo ele, o diferencial era a natureza como protagonista. Milazzo não considera seu personagem um herói clássico. "Ken Parker é um solitário, um homem do século 19 que anda pelas pradarias com as contradições típicas do seu tempo", conceitua. Nos anos 70, com o declínio do western spaghetti, um filme em especial chamou a atenção dos admiradores do gênero: Jeremiah Johnson, de Sydney Polack, com Robert Redford no papel principal. Aquele personagem foi o ponto de partida para a criação de Berardi e Milazzo, mas eles o enriqueceram com várias outras características. "A idéia era unir dois específicos criativos - desenho e texto - na tentativa de contar uma história da melhor maneira possível, conduzir o leitor e despertar emoções", considera o desenhista. Ele diz que o sucesso recorrente de Ken Parker (26 anos após sua criação, e com lapsos editoriais de até 10 anos) deve-se a essa ligação emocional dos fãs com o personagem. "Ninguém chega até mim ou a Berardi dizendo ´Que desenho fenomenal, que texto maravilhoso!´", ele diz. "Geralmente, os fãs agradecem pelo personagem ter despertado neles um determinado tipo de emoção", revela. Milazzo é um perfeccionista, tanto em seu traço quanto em suas pesquisas. Para fazer um episódio de Ken Parker sobre o general Custer, foi em busca da autobiografia do militar My Life on the Plains. Foi em um dos seus gibis que o leitor brasileiro (e europeu, muito certamente) chegou pela primeira vez às histórias do escritor americano Ambrose Bierce - Milazzo adaptou os contos de Bierce no episódio Histórias de Soldados. É também um estudioso da história americana do século 19. No final de semana, ao descer a Serra do Mar para ir à praia com a mulher, Milazzo parou num quiosque da Rodovia dos Tamoios para comprar suvenires de índios brasileiros. No meio de tudo, apontou para um colar e disse: "Aquilo não é brasileiro, é americano". De fato, tinha até etiqueta de importação. Era um círculo artesanal com penas no interior, com círculos concêntricos. "Os índios americanos fazem até os acampamentos em forma de círculo, e os círculos internos formam novos círculos", explica o desenhista. "O círculo é um símbolo sagrado para os índios americanos", disse o autor, cujo primeiro personagem foi justamente um índio, e brasileiro, Tiki Il Ragazzo Guerriero. Nascido em Tortona, Milazzo, de 53 anos, considera-se um genovês da gema. Tanto que, entre uma dezena de projetos, está trabalhando num guia da cidade, que vai se lançar no ano que vem "Racontare Gênova - Itinerari alla Ricerca di Aromi, Sapori e Curiositá". "Por meio dos aromas, sabores e detalhes, pretendo dar um testemunho da Gênova velha, que desapareceu ou está encoberta", ele diz. Nem só de Ken Parker vive a carreira de Milazzo. Ele foi autor de diversos personagens, séries e álbuns de sucesso na Europa, como Welcome to Springville, L´uomo delle Filippine (para a coleção Un Uomo un´Aventura), as séries de Marvin il Detective, Tom´s Bar, Magico Vento e Giuli Bai & Co, uma série ambientada em Gênova nos anos 50. Ganhou diversos prêmios pelos seus trabalhos. Em 89, na Espanha, levou o Haxtur como melhor desenhista de capas. A Anafi (Associazione Nazionale Amici del Fumetto e dell´Illustrazione) concedeu em 1993 à revista Ken Parker Magazine o prêmio de Melhor Iniciativa Editorial do Ano. A revista Fumo di China entregou a Milazzo o prêmio de melhor desenhista e escolheu a Parker Editore a melhor editora do ano de 1994. E está em plena ebulição criativa. Para o ano que vem, com o argumentista Jorge Zentner (argentino que vive em Barcelona) prepara uma versão em quadrinhos do D. Quixote, de Cervantes. Elabora também uma série sobre um índio iroquês (tribo que hoje vive na divisa entre o Estado de Nova York e o Canadá) e sobre suas relações com os sonhos, parte importante da cultura daquele povo. Com Giancarlo Berardi, o parceiro em Ken Parker, ele mantém a parceria "irrepetível" que cultiva desde os primórdios. "Um personagem nasce como um filho, mas depois torna-se um companheiro de viagem", diz Milazzo. "Para não cansar, desenvolvemos esse sistema de diversificar a produção, para escapar do tédio inevitável."

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