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Sérgio Mamberti é protagonista de "A Tempestade"

A companhia XPTO, conhecida por seu domínio da técnica teatral, encena a peça de Shakespeare mais propícia a efeitos visuais e sonoros, A Tempestade, com Sérgio Mamberti no papel do conciliador Próspero

Por Agencia Estado
Atualização:

Entre as mais bonitas peças de Shakespeare, A Tempestade talvez seja a que mais propicie a criação de efeitos visuais e sonoros. Nada mais adequado, portanto, do que ser encenada por uma companhia teatral com domínio de recursos marionetes, sombras e técnicas circenses. Assim é o XPTO. Criado há 18 anos pelo argentino radicado no Brasil Oswaldo Gabrieli, com 37 prêmios no currículo, o grupo apresenta a partir desta quinta-feira, no Teatro Sérgio Cardoso, sua encenação de A Tempestade, tendo como convidado especial Sérgio Mamberti no papel de Próspero. "Como produtor - e amigo -, Mamberti é parceiro do grupo há muitos anos", afirma Gabrieli. Para interpretar Próspero - o homem com poderes mágicos que vive numa ilha cheia de encantamentos -, o diretor decidiu que precisava de um ator de grande experiência. "A faixa etária dos atores do XPTO varia entre 20 e 40 anos." Serão 11 atores em cena, mais dois músicos que executam ao vivo a trilha especialmente criada por Roberto Firmino, compositor da companhia desde sua fundação. Gabrieli assina figurinos e cenário - arcos, espirais, um grande espaço aéreo, onde vivem seres alados como o gênio Ariel, em contraste com os troncos e plantas rasteiras em que transitam os homens em coloridos figurinos de época. Em algumas cenas, o grupo vai utilizar a técnica de teatro de sombras. "Para viver Próspero, precisávamos não só um ator mais velho, mas sobretudo de um grande ator, sob pena de comprometer a credibilidade do personagem." Mais que isso, Gabrieli destaca que o personagem é a criação de um Shakespeare maduro, capaz de apostar na conciliação substituindo a vingança. "Próspero é um articulador. A princípio quer recuperar o poder, mas ao recuperá-lo, ele desiste da vingança e consegue conciliar forças antagônicas. Impossível não fazer um paralelo com a proposta de Lula, principalmente ensaiando durante a campanha, como nós fizemos. Se diferentes forças interagirem, como quer o Lula, a coisa anda. Mas se as pessoas brigarem por pequenos poderes, tudo desaba", compara. Não é segredo para ninguém o engajamento político de Mamberti, um dos articuladores do programa de cultura do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. "É evidente que a trajetória pessoal e artística de Mamberti ajusta-se muito bem ao personagem. Sem contar que ele trabalhou em montagens revolucionárias, como O Balcão, dirigido por Victor García. Próspero pede alguém com o vigor de Mamberti para enfrentar desafios e sua ética no comportamento pessoal. Não podíamos ter um parceiro melhor", comemora Gabrieli. Próspero, Duque de Milão, há 12 anos mora numa ilha tropical com sua filha adolescente, a bela Miranda. Ele foi parar na ilha por conta de uma conspiração, envolvendo seu perverso irmão Antonio e Alonso, rei de Nápoles, que não só lhe tomaram o ducado como ainda o lançaram ao mar com a filha. Felizmente, seu bom conselheiro Gonçalo, às escondidas, colocou no barco todos os seus livros e ainda a varinha, o manto e os manuais de feitiçarias. Na ilha, Próspero encontra o selvagem Caliban (provavelmente anagrama de canibal) e Ariel, um gênio aéreo. Ambos passam a agir sob seu controle. Por meio de seus poderes mágicos, Próspero fica sabendo que o navio de seus inimigos vai passar próximo à ilha e manda Ariel provocar um naufrágio, mas de forma a não machucar ninguém. Antonio, Alonso e seu filho Ferdinando, o conselheiro Gonçalo, todos vão parar na ilha, embora em grupos separados. Ferdinando é atraído para a caverna de Próspero e se apaixona por Miranda, que corresponde ao seu amor. Próspero finge ser contra e submete o rapaz a duras provas. Em outra parte da ilha, Antonio e Sebastião (irmão de Alonso) tramam a morte do rei Alonso e do conselheiro Gonçalo, trama que sofrerá a interferência de Próspero. O humor fica por conta da amizade entre Caliban e os bufões Estefânio e Trínculo, que planejam a morte de Próspero e a um só tempo a tomada do poder na ilha e, claro, a ´tomada´ de Miranda. Depois de muitas peripécias e de uma grande reconciliação final, todos saem da ilha para voltar a Milão. "Os homens levam as intrigas palacianas até mesmo para uma ilha edênica", observa Mamberti, que já interpretou o bom conselheiro Gonçalo, em 1959, numa montagem de A Tempestade dirigida por Alfredo Mesquita, na Escola de Arte Dramática (EAD). "Ao chegar à ilha, Gonçalo fala sobre a possibilidade de construir ali um novo mundo, sem fome, submissão ou opressão", observa Mamberti. "A riqueza, a pobreza e a servidão seriam abolidas", diz Gonçalo. Gabrieli aproveitou para ressaltar o humor dessa primeira cena, onde Shakespeare faz rir com o contraste entre o otimismo de Gonçalo, o pessimismo de Antonio e Sebastião e a tristeza de Alonso que pensa estar morto seu filho Ferdinando. "Na montagem, o tempo todo há elfos em cena sempre visíveis para o público, mas invisíveis para os personagens. São eles que manipulam as pessoas a mando de Próspero. Nessa cena, eles sobem nos pés de Antonio, Sebastião e Alonso que, a cada passo, carregam o corpo de outra pessoa. Então, concretamente, há motivo para eles estarem vendo tudo de forma pesada", antecipa o diretor. Gabrieli antecipa que, embora ´pareça´ uma superprodução a montagem vai utilizar recursos simples, teatrais, artesanais. A simplicidade começa pela tradução assinada por Marcelo Rubens Paiva e Rosana Seligman. "Eu tinha gostado muito da tradução dele para a peça Subúrbia, daí o convite", comenta Gabrieli. "Não quero uma encenação naturalista, mas também não empostada, solene. A Tempestade é uma peça lúdica, divertida, ágil, na qual magia e realidade estão intimamente entrelaçadas." Para Mamberti, nesse entrelaçamento reside a beleza da peça. "É essa interação entre imaginação, intuição e inteligência que torna a aventura humana uma coisa extraordinária. O pensamento economicista predominante separa esses aspectos humanos, o que é sempre empobrecedor." A idéia da montagem surgiu há dois anos, quando Gabrieli foi convidado para dirigir Mágicos Navegadores em Florianópolis. A produtora catarinense Áprika Produção em Arte - responsável pela produção de A Tempestade em parceria com o XPTO - convidou-o para uma nova produção e a magia da ilha de Florianópolis trouxe à memória a peça de Shakespeare. "É uma experiência nova para o grupo que sempre cria sua própria dramaturgia, a cada espetáculo." Como é o caso de Utopia - Terra de Dragões, nova peça infantil do XPTO, que estréia também no Teatro Sérgio Cardoso, no sábado. "É uma peça sobre a perseguição de um mundo melhor, o que só se alcança coletivamente. Sem ser explicativa ou pedagógica, dá uma lição de cidadania. Vem me preocupando muito, ultimamente, essa sociedade apolínea, onde as buscas de sucesso são sempre individuais. Nada como fazer teatro para saber que nenhum resultado é fruto de brilho individual, mas sempre do esforço coletivo. E acho importante passar esse pensamento para as crianças. Claro, de forma lúdica. Os dragões dessa montagem são manipulados por oito atores, bonecos enormes, e representam as forças vitais, que podem ser destrutivas. É preciso saber lidar com elas." A Tempestade - De William Shakespeare. Direção Osvaldo Gabrieli. Duração: 105 minutos. De quinta a sábado, às 21 horas; domingo, às 18 horas. R$ 20,00 (quinta); R$ 25,00 (sexta) e R$ 30,00 (sábado e domingo). Amanhã, somente para convidados Utopia - Terra de Dragões - Texto e direção Osvaldo Gabrieli. Duração 60 minutos. Sábado, às 16 horas; e domingo, às 11 e às 16 horas. R$ 2,00 (preço único). Patrocínio: Prefeitura Municipal da Cultura, Lei do Fomento ao Teatro e Cidadania em Cena. Teatro Sérgio Cardoso. Rua Rui Barbosa, 153. São Paulo. Até 22/12

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