Sérgio Buarque de Holanda é homenageado

Encontro entre o crítico literário Antonio Candido e o historiador Fernando Novais no Centro Universitário Maria Antônia, neste sábado, é uma homenagem aos 100 anos de Sérgio Buarque de Holanda

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Por Agencia Estado
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Cinqüenta anos atrás, dizia a um jornal o crítico literário Antonio Candido: "Considero o sr. Sérgio Buarque de Holanda uma das mais altas organizações intelectuais do Brasil. Erudito profundo, de uma informação universal, é ao mesmo tempo um grande especialista no seu setor próprio: história econômica do Brasil. Ao lado disso, é uma sensibilidade rara, que o torna um dos mais finos críticos que temos tido." O depoimento marcava o aniversário de 50 anos do autor de Raízes do Brasil e de Visão do Paraíso e coordenador da coleção História Geral da Civilização Brasileira, obras fundamentais para a compreensão da história e da sociedade brasileira. Neste sábado, às 15 horas, o mesmo Antonio Candido, 50 anos mais certo da importância intelectual de sua obra, está escalado, ao lado do historiador Fernando Novais, para uma das mais importantes homenagens a Sérgio Buarque (1902-1982), pelos cem anos de seu nascimento, que se completam na quinta-feira, dia 11. O evento, que ocorre no Centro Universitário Maria Antônia, antiga sede da Faculdade de Filosofia, em São Paulo, tem lotação já esgotada. Segundo Lilia Moritz Shwarcz, que deve mediar a homenagem, Candido, colega de Sérgio Buarque na Universidade de São Paulo, e Novais, seu aluno, devem realizar uma "conversa entre amigos", dando um caráter afetivo à data. "Não será uma conversa pautada", explica. É possível, mas não certo, que seja lido um trecho de Raízes do Brasil. Sérgio Buarque, ao lado de Gilberto Freyre e Caio Prado Jr., forma o trio de autores que mudou a forma de se pensar o País. Suas principais obras foram lançadas entre 1933 (Casa-Grande & Senzala, de Freyre) e 1945 (Formação do Brasil Contemporâneo) e, segundo o próprio Candido, em prefácio a Raízes do Brasil (1936), "parecem exprimir a mentalidade ligada ao sopro de radicalismo intelectual e análise social que eclodiu depois da Revolução de 1930 e não foi, apesar de tudo, abafado pelo Estado Novo". Se Freyre foi fortemente influenciado pela antropologia anglo-saxã e Caio Prado pelo marxismo, Sérgio Buarque buscou na sociologia alemã (assistiu a aulas de Max Weber) os tipos ideais que lhe permitiram analisar a organização da sociedade brasileira da colônia até o século 20. Colonização - Um dos capítulos de Raízes exemplifica bem o método: chama-se Trabalho & Aventura e discute os papéis do trabalhador e do aventureiro na colonização. "Na obra da conquista e colonização dos novos mundos, coube ao ´trabalhador´ no sentido aqui compreendido, papel muito limitado, quase nulo. A época predispunha aos gestos e façanhas audaciosos, galardoando bem os homens de grandes vôos." Ou como também escreveu Candido: "(Ele) analisa os fundamentos do nosso destino histórico, as ´raízes´, aludidas pela metáfora do título (...). Trabalho e aventura; método e capricho; rural e urbano; burocracia e caudilhismo; norma impessoal e impulso afetivo - são pares que o autor destaca no modo-de-ser ou na estrutura social e política, para analisar e compreender o Brasil e os brasileiros." Filme e Internet - O cineasta Nelson Pereira dos Santos afirmou que seu documentário sobre o historiador, intitulado Raízes do Brasil - Biografia de Sérgio Buarque de Holanda, está em fase de finalização e só não deve ser lançado neste mês por questões ligadas ao pagamento de direitos autorais. Do orçamento, ainda falta captar cerca de um terço dos recursos, segundo ele. "Meu trabalho está feito." No centenário de nascimento de Gilberto Freyre, Nelson Pereira dos Santos também realizou um documentário sobre o autor de Casa-Grande & Senzala. O Centro Sérgio Buarque de Holanda - Documentação e Memória Política, da Fundação Perseu Abramo, colocou seus arquivos na Internet (www.fpabramo.org.br). O site traz um banco de dados sobre a história dos movimentos sociais brasileiros e sobre o PT, partido a que o historiador era filiado.

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