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"Senhora do Destino" vai ser novela ética

Senhora do Destino vem na contramão de Celebridade, para enaltecer a ética e temas como a migração, repressão e batalha da protagonista para reencontrar a filha

Por Agencia Estado
Atualização:

Quem espera conhecer novas Lauras, Renatos & companhia a partir de amanhã, na novela das 9 da Globo, vai se decepcionar. Senhora do Destino, que estréia no lugar de Celebridade, é centrada no drama da nordestina Maria do Carmo (Suzana Vieira), mãe de cinco filhos, que foi parar na Baixada Fluminense em busca de vida melhor. Enfrentou a fome, o preconceito e até a prisão, no contexto do Brasil de 1968. A retirante chega ao Rio quando o Estado está tomado pelos conflitos nas ruas por causa da repressão e vai presa, sem entender por quê. É uma novela com ingredientes autobiográficos: pernambucano como sua protagonista, o autor da trama, Aguinaldo Silva, também chegou ao Rio durante o cenário da repressão e foi igualmente preso. Aguinaldo volta a escrever novelas após um jejum de quase três anos - Porto dos Milagres (2001) foi seu último folhetim. Há muito em comum entre a história da Maria do Carmo e a história de sua vida? Aguinaldo Silva - Muita. Em primeiro lugar, Maria do Carmo é o nome da minha mãe. Sebastião, que é o personagem irmão de Maria do Carmo, é o nome do meu tio (risos). Sou pernambucano como a personagem e, como ela, vim para o Rio de Janeiro cedo - com 16 anos. Também tive de batalhar muito para sobreviver, ganhar a vida e chegar onde cheguei. Acho que a novela é autobiográfica, mas é uma trama que também fala dos brasileiros que venceram na vida através do esforço e do trabalho. Na minha novela não tem malandro, não tem gente que se dá bem através de golpes e maracutaias, tem pessoas que trabalham, que saem de casa 5 horas para trabalhar, que enfrentam a vida dura e difícil e que triunfam. Mas o conflito que guia a novela não faz parte da vida real do autor. É a batalha da protagonista para reencontrar a filha, seqüestrada com poucos meses de vida. Para tanto, a novela será dividida em duas fases: a primeira, ambientada em 1968, terá quatro capítulos e mostrará a chegada de Maria do Carmo ao Rio, sua prisão e o sumiço da filha. A segunda transfere a história para os dias de hoje. Homenagens - Até uma cadela Baleia, como em Vidas Secas, faz parte da viagem de Maria do Carmo (vivida por Carolina Dieckmann nessa primeira fase) ao Rio. Diretor responsável pela novela, Wolf Maya admite que houve, sim, a intenção de homenagear Graciliano nessa etapa. São imagens dignas de minissérie, como indicam as chamadas que estão no ar, com cuidado de fotografia e tempo extra de produção, que marcam a viagem da retirante ao Rio. E ela vem num caminhão do tipo pau-de-arara, exatamente como aconteceu com o presidente Lula, o que também não é mera coincidência... Maria do Carmo segue para o Rio com cinco filhos a bordo. O marido, que viera antes, nunca mais lhe mandou notícias - lá adiante, ele ressurgirá, na pele de José de Abreu. Quando Do Carmo chega ao Rio, ela se desencontra de seu irmão, que trabalha na cidade para a poderosa dona do Correio da Manhã, Josefa (Marília Gabriela). Perdida no meio de um conflito entre policiais e manifestantes, a pernambucana pede a uma estranha, vestida de enfermeira, para segurar sua filha por alguns instantes. A psicótica Nazaré acaba raptando a menina. Presa em meio ao tumulto, Do Carmo conhece na prisão aquele que será, na segunda fase, o grande amor de sua vida, Dirceu de Castro (Gabriel Braga Nunes/José Mayer). "Vou viver um grande amor com o José Mayer, mas o José Wilker vai chegar mais adiante para atrapalhar. Vai ser um triângulo", adianta Suzana Vieira. A atriz se diverte ao contar que "pela primeira vez na TV o José Mayer vai ser fiel". "Isso vai mudar o conceito que o público tem dele, essa fama de galã, de que pega todas. Eu é quem vou trair o Mayer (risos) com o Wilker, estou orgulhosa disso, é um marco na TV brasileira." Desfeito o mal-entendido da prisão, Maria do Carmo é solta, reencontra o irmão, os quatro filhos, mas não a caçula. Com o irmão, a retirante abre uma pequena tenda de materiais de construção na Vila de São Miguel, Baixada Fluminense, o que, anos depois, vira uma grande cadeia de lojas. Macumba - "Queria desde o começo ter a Suzana, ou como Maria do Carmo ou como Nazaré, pois ela é uma dessas poucas atrizes que fazem bem a vilã ou a mocinha", diz Aguinaldo Silva. "Mas quando comecei a escrever para a Do Carmo, só vinha a Suzana na minha cabeça, tinha de ser essa mulher guerreira", continua. "É sinal que minha macumba deu certo", brinca a atriz. Com visual repaginado, resultado de uma plástica que lhe custou R$ 50 mil e rendeu 10 quilos de desconto da balança - é ela quem conta - Suzana, só para usar as palavras da própria, vale a macumba. "Esse papel é um presente", diz, não para bajular o escritor, mas sim para brindar à sorte de contracenar com homens tão cobiçados - seus quatro filhos na segunda fase serão Du Moscovis, Marcello Anthony, Dado Dolabella e Leonardo Vieira. "É uma delícia trabalhar com homens bonitos, meu Deus (Suzana se abana), mas eu gosto mesmo é de trabalhar com atores bons. Já fui mãe, mulher e namorada dos maiores galãs da TV brasileira nas novelas", diz Suzana. Preocupação mesmo ela teve em adotar o sotaque nordestino sem fazer graça. A Maria do Carmo é uma nordestina dramática, séria, não é aquela coisa arretada, divertida. Estou me empenhando muito nesse sotaque, tomara que dê certo."

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