Seminário discute rumos do teatro brasileiro

Preparado há dois anos pelos diretores Roberto Lage e Celso Frateschi, Odisséia do Teatro Brasileiro confirma tendência da classe teatral para se organizar e questionar o estado da arte

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Por Agencia Estado
Atualização:

É cada vez mais evidente a disposição da classe teatral para sair do isolamento e voltar a debater os rumos do teatro brasileiro. Uma tendência apontada ainda no ano passado pela organização do movimento Arte Contra a Barbárie, que uniu artistas em torno de um manifesto e fortaleceu-se promovendo encontros e palestras. Com o estímulo do bem-sucedido movimento, debates em torno da atividade teatral têm sido freqüentes, organizados pelas mais diferentes instituições. Mas se a reflexão é sempre bem-vinda, a fragilidade na coordenação de alguns desses eventos acaba por torná-los bem pouco proveitosos. Preparado há dois anos pelos diretores Roberto Lage e Celso Frateschi, o seminário Odisséia do Teatro Brasileiro promete ter fôlego e consistência para destacar-se nesse cenário. Entre os dias 14 e 26, diretores como Antunes Filho, Zé Celso Martinez Correa, Antônio Araújo, Augusto Boal, João da Neves e Aderbal Freire-Filho, entre outros, além de críticos e ensaístas como Sábato Magaldi e Fernando Peixoto, vão ocupar o palco do Teatro Ágora para refletir sobre a arte teatral brasileira. O objetivo do seminário não é discutir problemas de produção ou financiamento e muito menos levantar uma pauta de reivindicações. "Está muito claro para quem faz teatro hoje que a discussão tem de ser ampliada para aspectos estéticos e éticos", afirma Frateschi. "Caso o debate girasse em torno de questões menores, não teríamos conseguido a adesão desses artistas." Temas, palestrantes e datas, tudo foi organizado de forma a religar teatros de ontem e hoje, recuperar linhas evolutivas e, a partir daí, buscar novos paradigmas, renovando e fortalecendo a vinculação entre teatro e sociedade. O nome do seminário surgiu de um "paralelo meio insólito" entre a viagem narrada por Homero e a aventura do teatro brasileiro através dos tempos. Duas décadas depois da partida de Ulisses, reinava o caos em Ítaca. Os pretendentes de Penélope disputavam o poder e foi preciso a interferência de Palas Atena, a deusa da sabedoria, para que a cidade reencontrasse seu rumo, por meio de Telêmaco, filho de Ulisses e Penélope. "Somos Telêmacos em busca de inspiração da deusa para a construção de um pensamento teatral sólido", diz Frateschi. No dia 14, às 20 horas, o crítico e ensaísta Sábato Magaldi abre o primeiro bloco do seminário, denonimado Gênese. "A idéia é recuperar um pouco da história de um certo movimento pendular que marcou o teatro brasileiro dos séculos 18 e início do 19, até a fundação de Teatro Brasileiro de Comédia." Os diretores Gianni Ratto e Fauzi Arap abrem o segundo bloco, Modernidade ou a Guerra de Tróia. "Nesse segundo bloco, o Arena e o Oficina estarão em foco, assim como todo o teatro político mais militante", diz Frateschi. "Também vamos discutir o surgimento da uma dramaturgia brasileira mais consistente." Participam ainda desse bloco Aimar Labaki e Gianfrancesco Guarnieri (dia 16) e Fernando Peixoto e Sérgio Carvalho (dia 17). Telêmacos ou os Pretendentes de Penélope é o título do terceiro bloco, que discute o cenário teatral contemporâneo. Os diretores Antônio Araújo, Enrique Diaz e Eduardo Tolentino, mediados por Silvia Fernandes (dia 18); João das Neves de Aderbal Freire-Filho (dia 21); Márcio de Souza e Luis Paulo Vasconcelos (dia 22) são os participantes desse fase. Paulo Autran (dia 23), José Celso Martinez Correa (dia 24), Augusto Boal (dia 25) e Antunes Filho (dia 26) encerram o seminário com o quarto e último bloco: Os Ulisses Retornam a Ítaca. "Queremos voltar a discutir o teatro não como um produto mas como uma atividade cultural importante para o País." Odisséia do Teatro Brasileiro - Preço: R$ 10,00 por dia. Ágora. Rua Rui Barbosa, 672, tel. 284-0290.

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