A frase, à primeira vista simples, colocada como tema da 27.ª Bienal de São Paulo, "Como Viver Junto", já inspira uma série de discussões: basta apenas pensarmos no período conturbado de nossos tempos de crise no âmbito geopolítico e social. Mas Como Viver Junto é baseada nos seminários que o filósofo Roland Barthes proferiu na década de 1970: implica, portanto, também, indagações que incluem a arte - a arte como experiência transformadora? Há outras bases, além de Barthes, que serviram para a concepção do projeto curatorial de Lisette Lagnado para a 27.ª Bienal, que será inaugurada em outubro - e já é certo que o artista Cildo Meireles não participará da exposição (segundo o presidente da Fundação Bienal, Manoel Pires da Costa, lhe foi informado que o artista não estará na mostra). O seminário "Vida Coletiva", organizado por Lisette, que ocorreu na sexta e no sábado na Fundação Bienal de São Paulo, tratou de dar luz às bases do conceito da mostra. Na sexta-feira, a documentarista Jane Crawford, viúva do artista Gordon Matta-Clark (1945- 1978), falou sobre o universo desse que é um dos destaques da 27.ª Bienal. Sua palestra focou as experiências de Matta-Clark na Nova York da década de 1970: no contexto de uma América envolvida na Guerra do Vietnã, o artista, pobre, voltou-se, entre outras questões, para o tema da habitação - entre os célebres trabalhos dessa pesquisa estão os dos cortes (ele cortou uma casa ao meio numa comunidade de desempregados e o espectador tinha de ir até o local para ver a obra) e propôs novas formas de criação em comunidade. No mesmo dia, o professor da Faculdade de Filosofia da USP, Celso Favaretto, tratou da radicalização das atitudes dos artistas nas décadas de 60 e 70 (no Brasil, período ditatorial). Radicalização de Hélio Oiticica (1937-1980), com seu Programa Ambiental - ponto forte do conceito da 27.ª Bienal: instaura-se a "ética da participação" da arte como experiência para a transformação social, política e pessoal. Já no sábado, a professora da PUC Jeanne Marie Gagnebin tratou da despersonalização das relações humanas e do individualismo, o que se reflete nas práticas artísticas. Jeanne usou como base textos do sociólogo G. Simmel sobre o início da vida moderna, de quase um século atrás - e a "ambivalência distância/proximidade" se vê a mesma até agora. "O paradoxo de hoje é que a proximidade física não significa uma intensificação do laço social, pode até provocar seu enfraquecimento", disse Jeanne. Logo depois, a curadora francesa Catherine David tratou da mesma ambivalência distância/proximidade a partir da obra do cineasta português Pedro Costa. Já Yuko Hasegawa apresentou o modelo do Museu de Arte Contemporânea do Século 21 de Kanazawa, do qual foi diretora. E, por fim, Peter Pál Pelbart, da PUC, fez a palestra "Como Viver Só: num mundo de excessos", conclamou Deleuze e sua "reivindicação da solidão absoluta" para a criação de uma nova comunidade, de um novo sentido de comunidade. Os relatos estarão disponíveis no site do Fórum Permanente de Museus.