Secretário da Cultura diz que apesar de 'origem espúria', 'assina embaixo' de frase de nazista

Roberto Alvim disse ter 'convencido' o presidente Jair Bolsonaro de que a citação a Joseph Goebbels foi uma 'coincidência retórica'

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Por Mateus Vargas
3 min de leitura

O secretário de Cultura, Roberto Alvim, afirmou ao Estado na manhã desta sexta-feira, 17, ter "convencido" o presidente Jair Bolsonaro de que a citação de uma frase similar a do propagandista do nazismo, Joseph Goebbels, em um discurso nas redes sociais, foi uma "coincidência retórica". Apesar de reconhecer a associação e afirmar repudiar o regime de Adolf Hitler, Alvim disse concordar com o conteúdo da frase.

"A origem é espúria, mas as ideias contidas na frase são absolutamente perfeitas e eu assino embaixo", disse o secretário. Segundo Alvim, na conversa com Bolsonaro, o presidente lhe garantiu que não será demitido.

Mais tarde, no entanto, o presidente Jair Bolsonaro decidiu demitir o secretário de CulturaRoberto Alvim. Segundo o Estado apurou com auxiliares próximos de Bolsonaro, a situação de Alvim ficou "insustentável"

O ex-secretário de Cultura, Roberto Alvim Foto: Gabriela Biló/Estadão

Questionado sobre a opinião de Goebbels em relação à arte, Alvim diz repudiar o nazismo, mas admite proximidade com a "filiação" que o propagandista tinha com a arte.

"A minha opinião sobre o regime nazista é a opinião de qualquer ser humano dotado de um mínimo de sanidade mental. Trata-se de um regime genocida. Tão genocida quanto o regime de [Joseph] Stalin, de Mao Tsé-Tung, portanto um regime absolutamente execrável. A filiação de Joseph Goebbels com a arte clássica e com o nacionalismo em arte é semelhante à minha e não se pode depreender daí uma concordância minha com toda a parte espúria do ideal nazista", afirmou ao Estado.

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Em vídeo em que anuncia o Prêmio Nacional das Artes, Alvim cita textualmente trechos de um discurso do ideólogo nazista Joseph Goebbels.

"A arte brasileira da próxima década será heróica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada", diz Alvim no vídeo.

"A arte alemã da próxima década será heróica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada", disse Goebbels em pronunciamento para diretores de teatro, de acordo com o livro Goebbels: a Biography, de Peter Longerich.

Assista abaixo:

O texto lido por Alvim em tom solene e pausado é bem mais longo, com outros trechos claramente inspirados pela ideia copiada de Goebbels. Em sua longa fala, o secretário diz que a cultura sob Bolsonaro terá inspiração nacional, religiosa.

"Trata-se de um marco histórico nas artes brasileiras", diz ele sobre o prêmio. "2020 será o ano de uma virada histórica. 2020 será o ano do renascimento da arte e da cultura do Brasil", encerra.

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A frase causou polêmica entre artistas e até mesmo entre apoiadores do governo de Bolsonaro, que cobram a demissão do secretário. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também foi às redes sociais dizer que é preciso afastar Alvim "urgentemente" do cargo. Leia mais sobre as críticas a Alvim aqui.

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