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Se seu parceiro de pandemia está dando nos nervos, tente estas dicas para consertar sua relação

Embora o estresse externo tenda a aumentar a discórdia, existem maneiras comprovadas de superar essa crise com sucesso

Por Jelena Kecmanovic
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A pandemia obrigou muitos casais a encarar rotinas exigentes, nas quais tentam conciliar trabalho – seja em casa ou na linha de frente – cuidado com as crianças e educação remota. Os resultados prejudicaram os relacionamentos em todo o país.

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“Com a chegada da pandemia, tivemos que fazer uma mudança de 180 graus no modo como funcionamos como família”, disse Amy Nguyen, 43 anos, gerente de marketing em Brea, Califórnia. Seu marido começou a trabalhar em casa e ela continuou a trabalhar no escritório algumas vezes por semana. “Fazer malabarismos com dois empregos de tempo integral, mais dois filhos na escola online, realmente sobrecarregou nosso casamento”, disse Nguyen.

Como psicóloga, notei um aumento acentuado na frequência com que meus pacientes querem discutir questões de relacionamento, bem como um aumento na demanda por aconselhamento de casais. Além das mudanças no funcionamento das famílias, as restrições sociais, os problemas econômicos, o isolamento de parentes e amigos, as poucas oportunidades de atividades prazerosas e divertidas e o medo de exposição ao coronavírus levaram alguns relacionamentos ao limite.

A pandemia ajudou a aumentar as dicussões e o estresse entre os casais Foto: Pixabay

Um em cada 5 americanos casados ou com parceiros pesquisados em julho disse estar enfrentando mais dificuldades do que antes da pandemia, e 30% disseram estar mais irritados com o parceiro. Quase 10% disseram que provavelmente se separarão, pelo menos em parte, por causa de questões relacionadas à pandemia. De maneira similar, um estudo alemão descobriu que cerca de 40% dos casais de sua amostra experimentaram mudanças negativas na satisfação do relacionamento. (Cerca de 20% relataram mudanças positivas).

Embora o estresse externo tenda a aumentar a discórdia, a hostilidade e o retraimento entre os casais, existem maneiras comprovadas de superar essa crise com sucesso – e possivelmente até melhorar seu relacionamento.

Aceite suas diferenças

Muitas vezes somos atraídos por pessoas que diferem de nós em termos de personalidade, temperamento, formação e hábitos. Mas os contrastes que inicialmente achamos estimulantes e encantadores podem causar frustração quando nosso parceiro não pensa, sente ou se comporta como nós.

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“Todas as características de cada pessoa têm prós e contras. Se você acha que seu cônjuge está muito rígido durante a pandemia, provavelmente foi sua confiabilidade e segurança que o atraíram lá no começo”, disse Erin Bell, psicóloga clínica em Alexandria, Virgínia, que se especializou em terapia e relacionamento de casais. “É irreal imaginar que você vai mudar a personalidade de seu parceiro, então a aceitação é um exercício constante”.

A aceitação é um processo ativo; é crucial para manter e melhorar a qualidade do relacionamento e, por isso, é um ingrediente-chave de várias abordagens de terapias de casais comprovadas. Mas não deve ser confundida com desistência. “Quando você começa a abrir mão de expectativas específicas em relação a seu parceiro, pode se surpreender ao descobrir que eles ficarão mais propensos a ouvir e mudar para uma direção positiva”, disse Miranda Morris, fundadora da True North Therapy and Training em Bethesda, Maryland.

A maneira como os parceiros lidam com o estresse, a incerteza, a perda, a ansiedade e a tristeza – tudo isso aumentou durante a pandemia – também pode variar. Um pode querer segurança e apoio emocional quando está angustiado, enquanto o outro pode preferir relaxar e processar os sentimentos sozinho. O segredo é respeitar as formas de cada um lidar com a situação (desde que não sejam claramente destrutivas, como beber em excesso) e, quando possível, oferecer o apoio que corresponda às necessidades da outra pessoa.

Quando as necessidades dos parceiros entram em conflito, encontrar um meio-termo pode resolver o problema. Sabrina Greene, reservista de 26 anos, trabalhou em turnos de 12 horas no pronto-socorro de um hospital militar em Norfolk durante a pandemia. Ela e o marido, que trabalha na UTI, quase não se encontravam em casa. “Quando nos encontrávamos, nossa relação era muito tensa, porque estávamos muito exaustos física e emocionalmente”, disse Greene.

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Ambos encontraram diferentes saídas criativas. “Ele transformou nossa garagem num ateliê de pintura”, disse Greene. “Às vezes eu só sento ali e o fico vendo pintar, vendo todas as suas emoções expressas na tela. Mesmo em silêncio, nos sentimos conectados. Ele, por sua vez, apoia minha saída criativa: estou produzindo podcasts no meu closet, que acabou virando escritório”. 

Controle a sua raiva

Quando o estresse fica insuportável e as emoções saem do controle, é fácil atacar a pessoa que está mais perto de você. A pesquisa mostra que a ansiedade pode se transformar em raiva rapidamente, trazendo algum alívio temporário. Mas, ao perder a cabeça, acabamos prejudicando nosso relacionamento e piorando nossa ansiedade no longo prazo.

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“Quando você ficar chateado com seu parceiro e estiver prestes a criticar ou reclamar, espere dez minutos antes de dizer qualquer coisa, e então dê a ele o benefício da dúvida”, disse Morris. “Talvez exista alguma outra explicação para o que ele fez, além de querer te machucar ou não se importar com você”.

Uma boa notícia é que cerca de 70% dos problemas entre casais não são questões que precisam ser resolvidas, apenas precisam ser conversadas, de acordo com Howard Markman, professor da Universidade de Denver e autor do livro Fighting for Your Marriage [algo como “Lutando por seu casamento”, em tradução livre]. 

Ele sugere que os casais prestem atenção ao seu estado emocional e, quando a conversa virar uma briga, deem um tempo, que pode ser solicitado por qualquer uma das partes, como nos esportes. É crucial que eles se comprometam a retornar à discussão mais tarde, quando ambos os parceiros estiverem mais calmos e conseguirem falar sem gritar nem insultar um ao outro.

Jonas e Rosalind Bordo, de Los Altos, Califórnia, aprenderam que trabalhar para estabelecer uma boa comunicação todos os dias foi fundamental durante este período estressante. Cofundadores de uma start-up de anúncios de aluguel de casas, eles tiveram de se ajustar para trabalhar juntos num escritório doméstico apertado, ao mesmo tempo em que cuidam de três filhos. Durante uma entrevista por telefone com o casal, Rosalind disse que eles estão tentando estar “psicologicamente presentes e conversar sobre os assuntos, por mais difíceis que sejam”. Eles também estão se esforçando para seguir a máxima de nunca ir para a cama com raiva.

Sempre que você tiver vontade de atacar seu parceiro, lembre-se de que vocês dois são uma equipe e devem se unir contra o problema – e não ficar um contra o outro. “Trabalho em equipe é a nossa palavra do ano. Meu marido e eu trabalhamos juntos e apoiamos um ao outro por todo esse período”, disse Nguyen. “Eu cozinho e ele faz outras tarefas domésticas. Quando um de nós precisa entrar numa chamada de trabalho, o outro garante que vai cuidar das crianças”.

Dividir as tarefas domésticas é uma forma de trabalhar em equipe Foto: Unsplash

Elogie seu parceiro

Uma das estratégias mais poderosas para salvar ou melhorar seu relacionamento é não fazer pouco caso de seu parceiro. Embora a maioria das pessoas saiba intuitivamente que isso é importante, muitas vezes é difícil ser grato por tudo o que o seu parceiro é e faz, especialmente em tempos difíceis.

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Depois de 25 anos administrando seu próprio negócio com sucesso, Tracy Chamberlain Higginbotham, 56 anos, profissional de relações públicas na cidade de Nova York, perdeu 50% de seu trabalho e receita durante a pandemia, ao mesmo tempo em que seu marido ficava cada vez mais ocupado. Chamberlain Higginbotham estava acostumada a dividir as responsabilidades domésticas de maneira equitativa com o marido e achava difícil renegociar seus papéis em casa. “Mas assumi a casa, fazendo os trabalhos cotidianos e outras tarefas. O que ajuda muito é que ele está muito grato, me elogiando e me agradecendo o tempo todo”.

Ser grato pode ter um efeito cascata positivo: pesquisas mostram que ser grato por seu parceiro o deixa, por sua vez, mais grato a você, mais receptivo às suas necessidades e mais comprometido com o relacionamento.

A apreciação de seu marido teve esse efeito no caso de Chamberlain Higginbotham. “Comecei a perguntar ao meu marido se ele precisa de mim quando está enfrentando um dia agitado”, disse ela. “Eu me sinto bem por poder contribuir e, ao assumir novas tarefas, descobri que gosto mesmo de fazer jardinagem”. Para melhorar sua percepção e suas lembranças das ações positivas de seu parceiro, Bell recomenda “observar e escrever algo bom sobre seu parceiro todas as noites. Você ficaria surpreso com a maneira como as coisas podem ser vistas e apreciadas”. Seu parceiro também vai dizer a você que a vida é diferente (e, esperamos, melhor!) ao seu lado. / Tradução de Renato Prelorentzou - - -Kecmanovic é diretora e fundadora do Instituto de Terapia Comportamental de Arlington / DC e professora adjunta de psicologia na Universidade de Georgetown.

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