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Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

Saudade com colarinho

De ganhar um shot. De virar um shot. De olhar o cardápio.

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Por Gilberto Amendola
Atualização:

Saudade do barulho de copo quebrando. De gelo trincando. De reclamar da música. De me encher de amendoim. De elogiar o colarinho. De dividir a conta com a calculadora do celular. De discutir os 10%. De esperar uma mesa. De segurar um lugar para quem está atrasado. De concordar sem ouvir o que o outro disse. De ganhar uma saideira. De tremoço. De pedir água. De esperar na fila do banheiro. De achar ruim com quem demora no banheiro. De dividir uma porção. Que saudade de dividir uma porção!

De uma televisão sem som. De esbarrar em desconhecidos. De meu número de telefone anotado em guardanapos. De ouvir que a “cozinha vai fechar”. De perguntar o que o outro está bebendo. De dar um gole na bebida de um desconhecido sem me achar um louco. Da caneta atrás da orelha do garçom. Das bolachas de chope. Aliás, de contar as bolachas de chope. De coqueteleiras gritando. De sussurrar uma bobagem no ouvido de alguém. De invejar a mulher do próximo. De pedir a receita do drinque. De ganhar um shot. De virar um shot.

Saudade do barulho de copo quebrando. De gelo trincando. Foto: Codo Meletti/ Estadão

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De olhar o cardápio. De decorar um cardápio. De pedir alguma coisa fora do cardápio. De pedir alguma coisa acebolada. De bacon. De pururuca. Das fritas. De ouvir o “Parabéns a Você” vindo de outra mesa. De perguntar se “esqueceram o meu pedido”. De pedir para “caprichar”. De observar as mesas sendo recolhidas. De me apaixonar por uma desconhecida.

De discutir política. De deixar uma caixinha. De pedir outra caipirinha. De beber na calçada. De chorar por uma segunda saideira. De ganhar uma cortesia. De esquecer o celular. De tirar fotos bobas. De ficar até fechar o bar. De ajudar a fechar o bar. De perguntar se estão precisando de funcionários.

De comprar um livro de um escritor que oferecia exemplares de mesa em mesa. De levantar as pernas para o funcionário passar o rodo. De pedir a conta fazendo aquele gesto com a mão. De ser convidado a se retirar. De dar vexame. De desmarcar exames. De mandar mensagens pra contatinhos. De lembrar da ex. De reclamar da ex. De perguntar se ainda dá pra tomar mais uma coisinha.

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De voltar para casa andando. De voltar pra casa sozinho. De voltar pra casa acompanhado. De errar a chave na fechadura. De me jogar na cama. De me sentir feliz. De acordar de ressaca. De prometer que nunca mais. De descumprir essa promessa no outro final de semana. De ouvir meu nome repetido no bar. De me sentir bem-vindo. Da vida que eu levava antes.

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