Satyros exibe peça baseada em texto de Drauzio Varella

O ator André Fusko leva aos palcos, hoje, no Espaço dos Satyros Dois, O Anjo do Pavilhão Cinco, adaptação do conto Bárbara

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Por Agencia Estado
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Impressionado com a riqueza humana revelada no livro Carandiru, de Drauzio Varella, o ator André Fusko decidiu levar parte daquelas histórias para o palco. Conseguiu autorização do autor, mas não do cineasta Hector Babenco que então, há quatro anos, preparava uma versão cinematográfica, hoje uma das mais bem-sucedidas da chamada retomada do cinema brasileiro. "O Drauzio me ofereceu, então, um de seus contos, Bárbara, que reúne o mesmo complexo universo de Carandiru", conta Fusko que, depois de inúmeros percalços, estréia hoje O Anjo do Pavilhão Cinco, no Espaço dos Satyros Dois. Trata-se da história de Bárbara (interpretado por Ivam Cabral), um travesti que, dentro do presídio, é apaixonado por Xalé (Darsom Ribeiro), encarregado da faxina. Quando é trocada por Galega (Maria Gandara), travesti recém-chegado à prisão, Bárbara resolve provocar ciúmes traindo-o com Faustino (Fusko), protegido de Xalé e jurado de morte por ser estuprador. Diante da traição do amigo, Xalé deixa de protegê-lo. "O mais impressionante da trama é que, apesar de encarcerados, esses seres condenados revelam os mesmos comportamentos e relações a que estamos acostumados em qualquer outro lugar fora dos presídios", comenta Fusko. "É como se, dentro da prisão, todos continuassem a reproduzir a vida naturalmente, apesar dos percalços." É o que pode explicar, segundo ele, cenas de ciúme, de luta pelo poder, traição, honra, amizade e amor. "E que nos fazem questionar se somos donos de nossos atos e relações ou vítimas de um comportamento programado geneticamente, vítimas de instintos ou de padrões culturais impostos inconscientemente." Além de atuar, André Fusko carrega o título de médico, atuando como clínico-geral, o que explica um dos motivos de sua aproximação com o oncologista Drauzio Varella, também sensivelmente ligado às artes. "Durante a faculdade, descobri minha paixão pelo teatro", explica Fusko, formado tanto pela Faculdade de Medicina como pela Escola de Arte Dramática, ambas da USP. Movido pela curiosidade de um estudioso, decidiu pesquisar a influência da dramaturgia na concepção de uma peça teatral. Assim, ele percebeu a riqueza de se adaptar o texto de Varella para diferentes formatos. Convidou, então, o crítico e dramaturgo Aimar Labaki para realizar a primeira versão de Bárbara, que é a que estréia hoje no Satyros, com direção de Emilio Di Biasi. Durante uma leitura do texto, Fusko ofereceu então o desafio a outro autor, Sérgio Roveri, que escreveu Abre as Asas sobre Nós, com previsão de estréia para agosto. E, se tudo correr bem, as duas peças serão apresentadas simultaneamente, revezando apenas as semanas. Será a concretização do projeto Bárbara ao Quadrado. Em sua versão, Labaki manteve-se próximo do texto de Varella, recriando o clima de tensão que domina o envolvimento de Bárbara com os outros personagens. Já Roveri buscou um caminho alternativo, tornando o texto, segundo Fusko, mais lírico. "Ele alterou o ambiente (a história não se passa apenas no presídio) como também fundiu personagens num só", comenta o ator, notando ainda que os dois dramaturgos aboliram a presença do médico na história, o que o desobrigou de representar Varella no palco. "A intenção era justamente essa: inspirar-se no conto e não transcrevê-lo." André Fusko não acredita que as histórias do Carandiru sejam um tema saturado, apesar de já tratado em livro, no cinema e na televisão. "Tivemos esse questionamento quando começamos a trabalhar com Emilio Di Biasi. Mas, enquanto no cinema e na tevê o tratamento ao tema é mais realista, no teatro conseguimos ser mais poéticos, mais metafóricos." E a estréia de O Anjo do Pavilhão Cinco ocorre quando ainda fervem as discussões sobre a recente absolvição do coronel Ubiratan Guimarães, anteriormente condenado por chefiar a ação da polícia militar contra uma rebelião no Carandiru em 1992 e que resultou em 111 mortos, todos prisioneiros. "Mesmo com parte do presídio já demolido, essa história ainda está muito viva em nosso imaginário." O Anjo do Pavilhão Cinco. 70 min. 16 anos. Espaço dos Satyros Dois. Praça Roosevelt, 124, Consolação, 3258-6345. 2.ª a 4.ª, 22h30. R$ 20. Até 17/5. Estréia hoje.

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