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Saramago chega para turnê pelo Brasil

Por Agencia Estado
Atualização:

O escritor português José Saramago, de 78 anos, chega domingo ao Brasil para dar continuidade à "turnê" que realiza para lançar seu mais novo livro - o romance A Caverna (Companhia das Letras, 352 págs., R$ 31), o décimo de sua carreira. A partir de segunda-feira, Saramago grava entrevistas para a televisão e fala, especialmente, com jornais de Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre, cidades em que realiza leituras de seu livro (respectivamente nos dias 5, 8 e 9). As leituras também ocorrem em São Paulo (quarta) e Rio (quinta). Em São Paulo, a leitura de A Caverna ocorre às 19h30, no Sesc Pompéia (Rua Clélia, 93, tel. 0--11/3871-7700). Os trechos da obra do autor português serão lidos por Raul Cortez. No Rio, o leitor de Saramago será o também global Paulo José e, em Curitiba, Luís Melo. Vencedor do Nobel em 1998, Saramago afirma que sua vida ficou ainda mais complicada após a premiação concedida pela academia sueca. "Eu, de certa forma, já tinha uma vida bastante agitada, mas, depois de um prêmio, todas as atenções se viram para a pessoa que o ganhou." Assim, para ele, concluir o livro antes da virada do século, para deixar bem clara suas posições sobre o mundo em que vivemos, foi uma conquista: "Convidam-me para uma infinidade de conferências, congressos, encontros de terceira idade; muitas vezes, tinha de dizer não a esses convites, mas aqueles que achavam que devia cumprir talvez tenham sido demasiados, porque me criaram um estado de tensão e agitação que quase me parece um milagre eu ter conseguido escrever esse livro." Depois da passagem pelo Brasil, Saramago segue para a Argentina. Passa ainda pelo Uruguai e Peru. "Só volto para casa em Lanzarote, no dia 20", contou Saramago, há quase um mês, quando estava no Chile, poucos dias antes do lançamento de A Caverna (o livro chegou às livrarias no dia 16). Saramago voltou para Portugal, percorreu as pequenas cidades do pequeno país, seguiu para os países de língua portuguesa da África e agora passa pelo Brasil. Oleiro - A Caverna é uma espécie de terceiro volume de uma "trilogia involuntária", como define Saramago, que inclui os livros Ensaio sobre a Cegueira e Todos os Nomes. "É uma trilogia que não nasceu como tal", explica o autor. "Normalmente, quando um escritor decide escrever uma trilogia, tem logo de entrada muito claro que quer escrever três livros, mas esse não foi o meu caso", completa. Os temas dos livros, o próprio autor reconhece, são completamente diferentes. Entre os enredos de Ensaio e de Todos os Nomes, não há pontos de contato, "assim como não os há entre esses dois livros e A Caverna. Então, o que faz dessas obras uma trilogia? "O que há aí e que do ponto de vista do autor forma uma trilogia é uma visão do mundo tal como eu o entendo." O novo livro de Saramago conta a história de um artesão, nomeado Cipriano Algor, que, em determinado momento, vê o fruto de seu trabalho (pratos de louça) ser desprezado pelo mercado, representado pelo Centro Comercial, onde entregava seus produtos. Sem as vendas que realizava, ele acaba por se mudar para o Centro, onde um genro exerce a função de vigia. Ao ter seu trabalho desprezado pelo Centro, o artesão é atraído, justamente para o coração daquilo que representa o capitalismo contemporâneo. Lá, encontra um mundo de sombras. Buscará, então, encontrar uma saída. Na opinião de Saramago, vivemos uma realidade ainda mais cruel que a imaginada por George Orwell, em 1984. Para o português, câmeras e sistemas eletrônicos trouxeram, como conseqüência, o fim da privacidade. Durante a entrevista, ele citou o programa Echelon, um sistema de espionagem mantido pelos EUA e Inglaterra, que seria capaz de monitorar entre 90% e 95% das comunicações do mundo. Na caverna de Saramago, tudo é extremamente vigiado. Inspirada no mito da caverna, descrito por Platão em A República, a obra do Prêmio Nobel de 1998 revela um mundo em que a condição humana e o conhecimento são aviltados. Segundo ele, a idéia do livro surgiu em Lisboa, quando soube, por meio de uma enorme propaganda, da construção de um shopping center. A posição de Saramago poderia ser vista como uma recusa ao desenvolvimento tecnológico. Ele, no entanto, nega essa intenção: "Não sou profeta, mas gostaria que as pessoas ganhassem consciência do mundo em que efetivamente vivem; não estou contra a ciência, o que quero dizer é que o ser humano deve ser respeitado."

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