PUBLICIDADE

Sandra Cinto expõe no Georges Pompidou

Por Agencia Estado
Atualização:

Sandra Cinto diz que não sabe desenhar. No entanto, foi desenhando em paredes, telas, em lâminas de vidro e até na própria pele que a artista p aulistana conquistou o circuito expositivo brasileiro e internacional. Seus traços delicados, feitos com ponta seca ou caneta, estão à mostra no prestigiado museu parisiense Georges Pompidou. Integram a exposição Elysian Fields, que fica em cartaz até o fim de julho. Até o fim do ano, esses mesmos traços poderão ser vistos na Espanha (na Bienal de Ponteviedra), em Portugal (numa coletiva brasileira na Galeria Canvas, no Porto), na Inglaterra (em uma individual no Instituto Henry Moore, em Leeds) e no Brasil, no Centro Cultural São Paulo (CCSP), espaço em que a ex-ginasta vai participar como artista convidada do Programa Anual de Exposições, programa no qual, há oito anos, começou sua trajetória de exposições. No Georges Pompidou, Sandra apresenta uma de suas atuações preferidas, um site specific (obra criada especificamente para um local). No caso, ela aproveita o espaço da sacada como suporte de seus desenhos. "Um local que tem muito a ver com meu trabalho, por se tratar de uma abertura para o céu", avalia. Otimismo - A instalação consiste em desenhos sobre a parede pintada de preto, em superfícies com áreas de cinco por três metros. Trata-se de um desdobramento da série Noites de Esperança, que Sandra desenvolve desde o início do ano e marca uma nova fase na sua carreira. Uma fase otimista, de celebração. "Afinal é o sonho que nos move e a esperança é o que nos mantém vivos". No lugar de objetos ligados à dor e à violência, como as facas que estampavam o grande muro cor de pele que criou para a última Bienal de São Paulo, Sandra desenhou, em sua nova série, explosões de luz de fogos de artifício e corações. Coincidentemente, o cartaz da mostra francesa é ilustrado por uma imagem do céu colorido por fogos de artifício. A artista diz que esses elementos entraram para seu repertório gráfico durante o último réveillon, o primeiro que passou na praia. "Aquela expressão de alegria e esperança com que as pessoas olham para os fogos na beira do mar me deixaram muito impressionada", conta a artista. Sempre sobre o fundo preto, as criações de Noites de Esperança variam de superfícies e instrumentos de execução - Sandra também tem uma série de telas desenhadas com ponta seca, mas, em Paris, utilizou caneta prateada sobre as paredes do museu. O fundo negro só muda para os trabalhos que está realizando para a Bienal da Espanha. "Para a Bienal, fiz os céus sobre um verde rebaixado", explica a artista, que representará o País ao lado de artistas como Marepe, Rochelle Costi e Ana Tavares. Os trabalhos para a mostra que começa no mês que vem e tem como tema o espaço foram selecionados pela curadora María De Corral, que esteve no Brasil há cerca de dois meses. Embora prefira sempre criar trabalhos em razão dos locais nos quais expõe, Sandra adianta que tudo o que mostrará durante este ano deve apresentar-se como um desenvolvimento de Noites de Esperança, grupo que ela define como "os antídotos para a dor". Essa dor, uma marca de sua produção até então, foi de uma certa forma inaugurada na mostra do programa do Centro Cultural São Paulo, em 1992. Nesse ano em que o evento foi realizado no prédio da Bienal, Sandra participou como uma das iniciantes selecionadas para a exposição, a primeira em grande circuito. Céu - Na época, a artista pintava suas telas celestes, retângulos inteiros recobertos por esse tom de azul, que mais tarde ganhou o tracejado de símbolos de solidão, como cordas e escadas. Em 1996, no Paço das Artes, Sandra apresentou sua primeira incursão pública pelo desenho, uma criação com nanquim sobre uma superfície amarela. A partir de então, o desenho ganhou papel fundamental em boa parte do trabalho da artista, seja em objetos, fotografias ou esculturas. Em novembro, a artista volta para o programa que a lançou com um novo céu. Embora ainda não tenha o projeto definido, ela vai mostrar no CCSP, desta vez como convidada, um céu diferente daquela que a apresentou à cidade. Possivelmente por meio de uma instalação composta de fotografia, objetos e desenho, ela volta com um repertório que evoca elementos que falam de um contentamento apaixonado. "Acredito que estamos vivendo um momento em que muitos acreditam na possibilidade de transformação e de melhora das relações e do mundo", comenta Sandra. "Também vejo que essa é uma fase muito especial para a arte contemporânea nacional", emenda a artista. Em abril, Sandra teve seu trabalho elogiosamente comentado em duas páginas da publicação norte-americana Artforum Internacional.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.