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Sacha, que não quer ser Rimbaud

Novo talento francês, autor de Ilusões Pesadas, diz preferir Bret Easton Ellis

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Por Redação
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Bill Clegg pode estar com a razão quando à predisposição genética para o álcool ou as drogas. O Sacha de Ilusões Pesadas se afoga em vinho, enfia algodão no All Star para parecer mais alto e entrar nas boates aos 14 anos, cheira cocaína como um aspirador de pó enlouquecido e não cansa de culpar a indiferença dos pais separados - a mãe do personagem é fotógrafa, profissão semelhante à verdadeira, do autor, cineasta e atriz, também filha de pais divorciados. Diane Kurys, aliás, usa essa referência autobiográfica no primeiro filme que dirigiu, em 1970 (Diabolo Menthe). O filho tem a quem sair."As drogas, no entanto, não representam um rito de passagem da adolescência para a idade adulta nem um acerto de contas com os meus pais", garante Sacha Sperling. "É literatura, mas não um poema de Rimbaud", acrescenta. Com isso ele quer dizer que seu "barco bêbado" está ancorado em outros portos, não mais o da escrita confessional em que o poeta aparece automaticamente associado à poesia. "Meu livro é sobre o silêncio, sobre a espera de algo que não virá, e por isso é um pouco melancólico". Sobre as frustrações de uma geração sem rumo, ele cita a influência do escritor norte-americano Bret Easton Ellis, autor do livro Abaixo de Zero, que retratou como nenhum outro o impasse dos jovens da chamada Geração X, que adotou o hedonismo como estilo de vida.Os jovens de Sacha em Ilusões Pesadas não são muito diferentes. Só usam o corpo para fazer sexo e cheirar pó. "Ellis foi meu mentor, mas devo lembrar que ele é filho espiritual de Jack Kerouac, que minha mãe lia muito." A mãe, Diane Kurys, também lia demais Françoise Sagan, a musa de sua geração, dedicando a ela seu filme Sagan, em que conta o drama da escritora, morta há sete anos afogada em dívidas, álcool e drogas. Ele entende o gosto da mãe, mas prefere William Burroughs. "Ele foi mais sonhador", justifica, adiantando que seu próximo livro vai ter um pouco da utopia da beat generation, da qual Burroughs foi expoente. "É uma espécie de road book e vai se chamar Les Coeurs on Sky Mauve." Como se vê, a literatura francesa sobre drogas é um tanto diferente da americana: na terra de Kerouac, os junkies são retratados sem nenhum glamour; na França, pode-se sucumbir ao vício, mas jamais perder o charme.

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