Roteiro de cinema

Em sua incursão europeia, Woody Allen foi a Roma gravar sua mais recente comédia; pontos clássicos e bairros alternativos estão lá, para aguçar sua curiosidade

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Por Bruna Tiussu - O Estado de S.Paulo
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"Gostaria de fazer um filme aqui? Vamos pagar por isso." O convite-patrocínio, sem papas na língua, foi suficiente para que, lá em 2005, Woody Allen transformasse a família originalmente nova-iorquina de sua história em uma típica inglesa, e assim rumasse a Londres para gravar Match Point, seu primeiro longa rodado na Europa. Os rechonchudos incentivos em libras levaram os belos cenários londrinos às telonas em outras três de suas produções. E a mágica receita se espalhou pelo continente. Com a mesma artimanha de ganhá-lo pelo bolso, também entraram no foco das câmeras do cineasta as belezas de Barcelona, Paris e, agora, Roma, onde se passa sua última comédia lançada sexta-feira nos cinemas brasileiros.Para Roma com Amor começa com uma sequência de cartões-postais clichês, como Allen já mostrou que gosta de fazer: a Piazza del Popolo, o trânsito caótico característico da cidade, a Piazza di Spagna e a Fontana di Trevi. Composto por quatro histórias e um elenco com estrelas como Roberto Benigni, Penélope Cruz, Alec Baldwin e o próprio Woody Allen, segue explorando mais da sempre ensolarada Roma turística, presente em todo e qualquer guia de viagem.A trama, porém, também abre espaço para a atmosfera descolada de bairros pouco conhecidos da capital, como San Angelo e Garbatella, que ganham cenas em suas ruelas pitorescas e cafés. O suficiente para despertar a curiosidade do espectador e futuro viajante.A comédia vem para afirmar mais uma vez que a incursão pelo Velho Mundo é uma maratona de inegável sucesso para ambos os lados. Em sete anos de viagens pela Europa, Allen abocanhou US$ 17 milhões em incentivos fiscais e produziu sete longas - voltou à sua Nova York apenas para filmar a comédia Tudo Pode Dar Certo, lançada em 2010, digamos que um período sabático em meio à temporada europeia. É um dos poucos capazes de manter tal ritmo de produção, com liberdade total para conceber suas ideias.Em contrapartida, a capital italiana e os outros destinos que lhe serviram de set ganharam mais que o importuno movimento causado pelas gravações - durante as filmagens de Vicky Cristina Barcelona, não era raro ver a população enfurecida com as regalias concedidas ao diretor. Com ruas, monumentos, paisagens e sotaques exibidos nas telonas do mundo todo, saíram no lucro com uma incalculável visibilidade turística. Roteiros inteiros enquadrados e selados com a assinatura do gênio nova-iorquino. Que viajante não quer testá-los in loco?Seguindo passos. Basta conferir na internet o número de referências de buscas pela 'escadaria de Meia-noite em Paris'. Depois que Gil (Owen Wilson), protagonista da trama de Allen, pegou carona com Scott e Zelda Fitzgerald diante dos degraus da Igreja de Saint Etienne, no 5.º arrondissement, o lugar se tornou parada obrigatória de quem está de passagem pela Cidade Luz - sobretudo à meia-noite, quando os mais crentes vão tentar a sorte de encontrar o tal carro que os levará para a Paris dos anos 1920.Um crescente interesse por Oviedo e Avilés, cidades das Astúrias, na Espanha, também pode ser percebido depois que Vicky Cristina Barcelona alcançou os cinemas. Viajantes não resistiram às panorâmicas exibidas pelo longa e trataram de incluir os vilarejos em seus roteiros pelo país.Com Roma, não será diferente. O empurrãozinho de Allen, a favor de seus clichês ou de novas regiões da cidade, virá a calhar em época de crise europeia. E a corrida para próximo candidato à destino cenográfico do diretor já começou. Este ano, ele gravará em São Francisco e Nova York - e, ao que parece, Berlim, Rio de Janeiro e Buenos Aires estão no páreo para ser a sede do roteiro seguinte. Falta saber quem vai abrir a carteira e ganhar o coração do disputado cineasta.

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