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Rostropovich rege sua obra favorita no Rio

Maestro russo ensaia Romeu e Julieta, de Prokofiev, que será apresentado com coreografia de Vladimir Vassiliev a partir de quinta-feira, e revela que tocará Villa Lobos para a rainha da Inglaterra

Por Agencia Estado
Atualização:

A montagem de Romeu e Julieta, de Serguei Prokofiev, com coreografia de Vladimir Vassiliev, que o maestro e violoncelista russo Mstilav Rostropovich rege a partir de quinta-feira, no Theatro Municipal do Rio, é a realização de vários sonhos dele. "É minha obra preferida. Dos 16 aos 18 anos assisti a todas as récitas no Teatro Bolshoi e sabia tocá-la inteira de cor. Por causa dela, conheci Prokofiev, que me ensinou muito", contou Rostropovich no sábado, após o ensaio com a Orquestra Sinfônica do Theatro. "Essa montagem de Vassiliev é especial para mim. Adoro as pernas das bailarinas, mas detesto que elas imponham o ritmo da música. Então, ele criou esta versão, em que o balé ilustra a música." Rostropovich chegou na sexta-feira e se enfurmou no teatro, ensaiando, todo o fim de semana. Só saiu para almoçar comida típica brasileira, acompanhada de caipirinha, feita com cachaça, por exigência dele, e caminhar por Copacabana, zona sul do Rio, onde ele se hospeda. Ao contrário da apreensão dos produtores do espetáculo, ele adorou a orquestra do Municipal. "Esse conjunto é motivo de orgulho para os brasileiros. Romeu e Julieta é a peça mais difícil que existe, só se compara à Sagração da Primavera, de Stravinsky, e eles não só tocam bem, mas executam a música com vontade, entendendo o que têm de passar", elogiou o maestro. "A música é uma carta que o compositor escreve ao público e cabe a nós, os instrumentistas, lê-la corretamente, interpretar a esperança, o sofrimento e a alegria que o autor quis transmitir. Essa orquestra fez isso com muita competência. Se eu não gostasse, ia embora logo, mas ao ouvi-los decidi ficar com todo amor." Para o maestro, Romeu e Julieta é uma peça que exige técnica de interpretação e todos os recursos são válidos para chegar ao resultado desejado. "Digo até coisa impróprias", brinca. "Por exemplo, na cena da ama-de-leite da Julieta, a música remete às amas russas, que eram mulheres de seios enormes. Eu quero que a música faça as pessoas verem esses seios e mostrei como eram." O maestro já veio ao Brasil cinco vezes (a primeira em 1961, aos 35 anos, antes de ser banido da antiga União Soviética), mas contou que aprendeu a gostar do País muito antes, quando conheceu Heitor Villa-Lobos (maestro e cellista como ele) no México, ambos como jurados do Concurso Pablo Casals. "Nossa amizade foi instantânea, ficamos muito ligados um ao outro e ele prometeu escrever um concerto para mim, mas infelizmente não deu tempo, morreu antes", lembrou Rostropovich. "Mesmo assim, vou dar uma notícia em primeira mão. A rainha da Inglaterra, Elizabeth II, me convidou para tocar no concerto que comemora os 50 anos de sua coroação, em 1.º de julho. Será um enorme recital e eu tocarei durante oito minutos. Escolhi as Bachianas, de Villa-Lobos, para homenageá-lo e também ao Brasil.

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