Romeus e Julietas no colégio interno

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Por Roberta Pennafort e RIO
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Um intervalo entre aulas de latim e de trigonometria num entediante e repressor colégio interno. Quatro alunos se embrenham nas palavras de Shakespeare e começam a viver a história mais conhecida do dramaturgo inglês, escapando de suas vidas. Quatro atores se revezam encarnando Romeu, Julieta e outros Montecchios e Capuletos. Têm poucos recursos além de seu entusiasmo. Foi assim na Broadway, em Londres, em Tóquio e em todas as outras paragens às quais chegou Shakespeare's R&J, premiada peça de 1997 que fez a fama do autor norte-americano Joe Calarco. "Um pequeno milagre!", "Inventiva!", "Corajosa!", gritaram crítica - e públicos. Traduzida por Geraldo Carneiro e encenada por João Fonseca, R&J de Shakespeare - Juventude Interrompida vem de quatro temporadas pelo Brasil, de Salvador a Porto Alegre. Sessenta mil pessoas já a assistiram desde a estreia no Rio, há quase um ano. Entre 14 de janeiro e 29 de fevereiro apodera-se do Sesc Belenzinho. Em seus uniformes alinhados, Rodrigo Pandolfo, João Gabriel Vasconcelos, Felipe Lima e Pablo Sanábio usam apenas mesas, cadeiras, o chão. Réguas viram espadas; esquadros, máscaras. Não há trocas de figurino, não se tangencia o histrionismo. Das páginas do clássico eles extraem a eletricidade da paixão proibida, a vulnerabilidade dos amantes amaldiçoados, a insegurança cheia de hormônios adolescentes. O romance é embalado por trilhas contemporâneas e há citações a Romeus e Julietas famosos, como os de Zeffirelli, do grupo Galpão e do West Side Story de Bernstein e Sondheim. "O que eles fizeram com o texto foi muito interessante", diz Geraldo, que traduz o autor há 30 anos. "A adaptação de Joe Calarco parte de uma ideia semelhante à do filme Sociedade dos Poetas Mortos. Mas a montagem dos atores e do João deu ao espetáculo um jogo cênico de grande sofisticação. Lembra um Brecht à moda brasileira, e isso fez com que o lirismo de Shakespeare se amplificasse."O quarteto trabalhou com o diretor na composição dos personagens e escolhas cênicas. Na busca por limar excessos, as indicações do autor muitas vezes foram deixadas de lado, conta Pandolfo. "Nossa maior descoberta foi a de que não precisávamos acertar. Se a gente errar, mesmo que seja o texto, são os estudantes errando. Podemos até voltar a cena."

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