Romance inspirou livro e monólogo

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Por Ubiratan Brasil
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Foi em novembro de 1951 que a poeta norte-americana Elizabeth Bishop (1911-1979) chegou de navio ao Porto de Santos com a intenção de ficar apenas duas semanas, antes de prosseguir sua viagem de circum-navegação em torno da América do Sul. Na época, fugia de problemas pessoais que a atormentavam. Ficou 15 anos, período em que manteve uma relação amorosa com a arquiteta e intelectual Lota de Macedo Soares. O caso ajudou-a a aliviar sua depressão como também lhe trouxe inspiração para escrever alguns de seus melhores poemas, algo significativo para uma obra que, apesar de exígua, expressa uma das vozes mais lúcidas da poesia americana contemporânea.A relação entre Elizabeth e Lota inspirou várias obras contemporâneas. A começar pela peça Um Porto Para Elizabeth Bishop, escrita por Marta Góes em 2001 e que pode ser vista na Caixa Cultural Sé até este fim de semana. O texto, um monólogo, ainda é encenado por Regina Braga. O encontro das três mulheres não foi fortuito. Regina buscava um espetáculo solo terno e que refletisse a história do Brasil. Pediu auxílio à amiga Marta, que foi editora do Caderno 2. Ela, após algumas pesquisas, se lembrou de Elizabeth Bishop - afinal, a poeta viveu em Samambaia, fazenda próxima a Petrópolis, onde a jornalista passou a infância no mesmo período.Estava ali o material desejado: o retrato do País que a poetisa desenha em suas cartas e poemas, com estranhamento de estrangeira e de artista, fornecem uma visão nítida e enternecedora do Brasil. Material semelhante inspirou o americano Michael Sledge a escrever A Arte de Esquecer (Leya), misto de romance e biografia que acompanha o período mais fértil da vida de Bishop. Ele se baseou nas cartas da poeta para escrever uma prosa atraente e delicada. E se inspirou em versos de Camões ("...O dar-vos quanto tenho e quanto posso. / Que quanto mais vos pago, mais vos devo") para escolher o título da obra.

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