Com uma exceção. Entre as poucas certezas que sobreviveram ao choque de saber que o Rock não era tão rock assim estava a da inviolabilidade das contas numeradas na Suíça. Podia-se especular sobre quem tinha ou não tinha conta numerada num banco suíço, mas jamais esperar que se descobrisse quem. Agora ruiu mais este mito. Os nomes estão saindo nos jornais. Temos o direito de nos sentirmos um pouco como aquele irmão Karamazov do romance do Dostoievski que, no meio de uma bebedeira, proclama: “Se Deus não existe, tudo é permitido!”. Anos mais tarde, o Nelson Rodrigues se apropriou da frase e escreveu: “Se Vinicius de Moraes existe, tudo é permitido!”. Podemos propor uma terceira versão: se não se pode mais confiar nem na discrição fiduciária dos suíços, nada é sagrado!
No Brasil, há mitos ruindo por todos os lados, incluindo alguns que o PT criou sobre si mesmo. O mito neoliberal da competição como tônico de um mercado livre a autorregulável só sobrevive porque seus pregadores desdenham do óbvio. O que estamos vendo nessa meleca toda, empreiteiras formando cartéis para participar de licitações combinadas e comprando favores e contratos de corruptos com propinas milionárias, se não uma espécie de apoteose feérica do capitalismo de compadres em ação? O compadrio odeia a competição. Talvez, na próxima passeata, uma das faixas possa aludir a isso.