Ritmos que evocam a alma de um grande mestre

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Por Roberto Nascimento
Atualização:

Vanguardistas torcem o nariz para Wynton Marsalis. Dizem que seu trompete é oportunista, retrógrado, vende o jazz para o diabo. Mas a pulsação africana, aquela que nos faz lembrar de que um bom groove, free ou dixie, supera qualquer modismo, respira com mais liberdade em sua música do que na da maioria de seus contemporâneos. Essa herança é o melhor motivo para se ouvir Here I Go Again, disco feito por Wynton e Willie Nelson em homenagem a Ray Charles, com participações de Norah Jones. Os ritmos estão todos lá: gospel 2-beat, boogaloo, 4/4 swing. Acompanhados pela finíssima cozinha de Wynton, com Ali Jackson na batera, Dan Nimmer no piano e Carlos Henriquez no baixo, são brejeiros, impossíveis de serem ouvidos em repouso. Willie e Norah ficam em segundo plano. O primeiro parece não estar confortável em meio à efervescência rítmica: suas sílabas lânguidas, acostumadas a baladas country (uma delas gera seu melhor momento no disco) destoam. Norah canta sexy, mas sem a sacanagem de Ray, cuja alma aparece somente na entrega de Wynton e banda.

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