Como é possível tanta beleza, delicadeza e tristeza estarem representados com tanta simplicidade? Com essa frase o dançarino de butô Yoshito Ohno mostrou sua perplexidade diante de um dos espetáculos do grupo brasileiro Caixa de Imagens. Quem ainda não experimentou o encantamento provocado pelo requintado trabalho desse grupo - que consegue fazer rir e chorar com histórias criadas para bonecos de pouco mais de 4 cm, em espetáculos que duram apenas um minuto e são apresentados para um único espectador, num palquinho de 40 cm -, tem agora uma ótima oportunidade. O Caixa de Imagens faz uma temporada de dois meses no Sesc Belenzinho onde apresenta 14 espetáculos de seu repertório, três deles inéditos. As apresentações são gratuitas e começam sempre às 16 horas. Criado há seis anos e integrado por Mônica Simões, Fábio Coutinho, Evelyn Cristina e Carlos Gaúcho o grupo vem conquistando público e crítica em eventos no Brasil e no exterior, entre eles os festivais internacionais de teatro de Avignon, na França; de Berlim, na Alemanha e do Porto, em Portugal. No Belenzinho, o público poderá ver 14 espetáculos - dois diferentes a cada dia - do repertório da companhia: oito "dentro da caixinha" e sete fora dela. Dentro da "caixinha" o grupo manipula bonecos e cenários, além de sofisticados efeitos de iluminação e trilha sonora na criação de historinhas apresentadas com riqueza de detalhes, com duração que varia de um a três minutos. É o caso de Passos de Antônio, já apresentado em Portugal e que estréia no Brasil nesta quinta-feira. "A idéia desse espetáculo surgiu em 1995, quando participamos do Festival de Teatro de Ouro Preto e é uma homenagem ao escultor Aleijadinho", conta Mônica. O boneco Aleijadinho surge em seu ateliê, no seu último dia de vida, esculpindo os pés de um profeta, e recebe a visita de um anjo de luz. "No fim da vida, ele tinha vergonha do estado de seu corpo, que escondia sob um capote, e só trabalhava à noite", lembra Mônica. O grupo chegou a mostrar o espetáculo no festival de Ouro Preto. "Mas o espectador saía tão triste da apresentação que decidimos parar." Ano passado, o grupo recriou a cena, que o público poderá ver amanhã no Sesc. "Mas continua triste", admite Mônica. Em compensação, o humor é a tônica de El Cocinero Nervoso, Panqueca Neurótica, o espetáculo da "caixinha" que será apresentado no sábado. Nele, o espectador acompanha as trapalhadas de um cozinheiro às voltas com uma panqueca que insiste em ficar grudada no teto. "O personagem de quadrinhos Obelix inspirou o protagonista gordinho e narigudo." Um quarto cheio de objetos, entre eles uma máquina de escrever de 2 cm ao lado de uma "grande" cama de 13 cm, é o cenário de Dia de Chuva, o espetáculo "fora da caixa" que será apresentado amanhã, a partir das 16 horas. Neste caso, a platéia é bem maior, dez espectadores por sessão, que dura 15 minutos. Tudo começa com os ruídos de um ronco, da chuva e de um insistente despertador. Subitamente, descobre-se que o ruidoso dorminhoco é mesmo o cobertor, que ganha vida e tenta eliminar o incômodo ruído do despertador. Estevão Convida está entre os melhores espetáculos do grupo. O personagem central foi inspirado num morador de rua que, algumas horas após assistir a uma das apresentações do grupo voltou para ler uma poesia de sua autoria inspirada no que viu. Suas roupas, meio sujas, poídas, e aparência constrastavam com as dos demais espectadores da fila formada para ver o espetáculo. "Mas quando chegou na sua vez de olhar na caixinha, ele fez questão de abotoar o blazer; nosso personagem Estevão se veste exatamente como ele e tem a mesma dignidade." Talvez por isso, Estevão seja um dos personagens criados pelo grupo que mais tem cativado o público. "Ao fim, todo mundo comenta que quer levá-lo para casa." Caixa de Imagens - Duração aproximada de 3 minutos, para um espectador de cada vez; e Curta Curtíssimas, duração de 10 a 15 minutos cada, de 6 a 12 pessoas por vez. Quinta e sábado, das 16 às 18 horas e das 19 às 21 horas. Grátis. Sesc Belenzinho. Avenida Álvaro Ramos, 991, tel. 6096-8143.