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Rio vê nova montagem de "Arlequim"

Mesmo com um elenco de globais, a montagem do clássico da Commedia dell´Arte Arlequim e Seus Dois Patrões, que os cariocas verão a partir desta quinta, esconde os atores e revela a integridade dos personagens

Por Agencia Estado
Atualização:

Quem assistir à montagem de Arlequim Servidor de Dois Patrões, que estréia amanhã no Rio, no teatro Maison de France, para ver atores globais em cena, vai levar um susto. O elenco do clássico de Carlo Goldoni está recheado de estrelas (Camila Pitanga, Marcos Breda, Ernani Moraes, Anderson Müller, Guilherme Piva, Leonardo Vieira etc.), mas eles não aparecem com as caras que fazem sucesso na telinha e sim com os rostos da Commedia dell´Arte, da qual Arlequim é uma espécie de consolidação. No século 18, quando o texto foi escrito, o gênero estava decadente e Goldoni o reativou de forma brilhante. A ponto de o texto, com mais de 250 anos, ser atual e sucesso até hoje. A montagem é um projeto de Breda e Camila, que assinam a produção orçada em R$ 500 mil (pagos pela Refinaria Alberto Pascoalino, através da Lei Rouanet e da lei gaúcha de incentivo à cultura), que envolveu uma pré-estréia em Porto Alegre e cursos com especialistas no Rio Grande do Sul. "A gente vem se preparando há mais de um ano e eu, desde os anos 90, quando comecei a estudar a função do movimento na cena. No mestrado me dediquei à capoeira e, em 2000, fui para Londres estudar com Philippe Gaulier, discípulo de Jacques Lecoq", conta Breda, que faz o Arlequim. "Desde 1997, o Luiz Arthur e eu queremos montar essa peça, mas é uma produção complicada e só foi possível agora." Segundo Nunes, as dificuldades de Arlequim o tornam atraente para atores e diretores. "O texto tem um protagonista, mas todos os personagens são importantes. E um texto coral em que cada ator tem seu solo, mas nenhum se sobrepõe ao outro, todos participam da trama, das confusões armadas pelo autor e o público se torna cúmplice", adianta. "Reduzimos o espetáculo a duas horas, mas fomos absolutamente fiéis ao texto de Goldoni. Não tentamos abrasileirá-lo nem colocamos cacos. Não faria sentido montar essa peça tirando dela as características que o autor lhe deu." Arlequim exige muito dos atores, que ficam em cena o tempo todo. A ação começa com um grupo mambembe (como os que percorriam praças medievais) tentando montar a peça, que ocorre num palanque montado no centro do palco. A história trata de desencontros amorosos de nobres venezianos e das confusões que seus criados aprontam para tirar vantagens delas. Camila Pitanga é Beatriz Rasponi, que se veste de homem para cobrar uma dívida do irmão morto e desencadeia uma série de qüiproquós. Ela aparece o tempo todo travestida, escondendo suas formas esculturais. "Isso não tem a menor importância para mim, pois o importante é servir ao espetáculo e ao personagem", avisa ela. "Mas eu queria também aprender a produzir, conhecer o processo de fazer teatro por dentro. Por isso, esperei esta oportunidade com o Marcos Breda." Eles reconhecem que a passagem do Picolo Teatro de Milão pelo Rio, em abril, com sua montagem de Arlequim e as palestras de Ferruccio Soleri, que vive o personagem há mais de 40 anos, foi importante para a experiência de recriar a peça com elenco brasileiro, direção e produção brasileiros. "Eles têm um conhecimento que não podíamos desprezar. Além disso, nosso projeto vai além da mera montagem do espetáculo. Estudamos a fundo a Commedia dell´Arte e sua influência até hoje. E estendemos essa experiência a outros atores e estudantes de teatro", lembra Breda. "Preparei-me cinco anos para o Arlequim e estar envolvido também na produção me ensinou mais sobre teatro que meus 20 anos de carreira."

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