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Rio revive era de ouro da revista musical

Com Theatro Musical Brazileiro 3, que estréia sexta, a atriz Maria Zilda comemora 30 anos de carreira cantando, dançando e tocando piano

Por Agencia Estado
Atualização:

O espetáculo Theatro Musical Brazileiro 3 (1945 a 1962), que estréia sexta-feira no Teatro Scala, no Rio, revive a revista musicada dos anos dourados e realiza sonhos de seus responsáveis. A atriz Maria Zilda comemora 30 anos de carreira cantando, dançando, tocando piano e exibindo sua forma exuberante como nunca fez antes. E o diretor e autor do texto, Flávio Marinho, completa a trilogia iniciada nos anos 80 por Luiz Antônio Martinez Corrêa, mostrando por que o teatro era a arte do povão e da elite. "Paramos em 1962, porque é aí que o gênero entra em decadência, os shows vão para as boates e a censura começa a podar os textos", explica Marinho. "Ficamos só com o melhor dessa época." Ele era crítico nos anos 80, quando se apaixonou por Theatro Musical Brazileiro, em que Martinez Corrêa (irmão de José Celso) compilava os sucessos das revistas do século 19. Ao deixar a crítica, hesitava em virar profissional de teatro quando foi convidado para assistir ao ensaio da continuação, que ia até os musicais do fim da 2.ª Guerra Mundial. "Crítico não assiste ensaio, é antiético. Dessa forma, Luiz Antônio me convidou a passar de pedra a vidraça", conta Flávio, que sonha completar a trilogia desde os anos 90, com a colaboração da irmã de Luiz Antônio, Maria Helena. "No início do ano, a Maria Zilda veio me pedir um musical e aí deu tudo certo." Essas histórias são só acessório para Theatro Musical Brazileiro 3 porque o bom mesmo é ver como nossos pais e avós riam de si mesmos em espetáculos que misturavam dança, canto, representação em superproduções com 60 ou 70 pessoas em cena e outro tanto nas coxias. "Comentava-se a vida social e política com muita liberdade, dentro de uma estrutura rígida, mas lógica", lembra Marinho. "O número de abertura do segundo ato, por exemplo, tinha de ser algo leve, pois as pessoas ainda estavam voltando para suas cadeiras e nem sempre conseguiam acompanhá-lo. Ou seja, nada era fora do lugar. Respeitamos essas regras que criavam um código com o público." Para Maria Zilda, Theatro Musical Brasileiro 3 responde a uma cobrança profissional. "Eu e atrizes da minha geração não fizemos musicais porque eles não ocorreram nos anos 70 e 80. Faltava isso na minha carreira, mas precisei produzir porque no Brasil o ator tem de cuidar desse lado se quiser fazer o que tem vontade", conta ela. "E o Flávio é o diretor ideal porque tem o espetáculo pronto na cabeça desde o início. Todo mundo rende e confia nele para um resultado bonito, chique e enxuto." Para Flávio não foi fácil resumir em duas horas o período mais rico da revista musical brasileira, um gênero filho do teatro de variedades, que encontrou aqui terreno fértil. Havia dois grandes empresários, Carlos Machado e Walter Pinto, e um elenco de bons redatores (Mário Lago e Sérgio Porto, por exemplo), ótimos atores, bailarinos (Nélia de Paula, Virgínia Lane, Consuelo Leandro, etc.) e compositores (Lamartine Babo, Ary Barroso). "A pesquisa foi penosa pois os originais, quando existem, nem podem ser xerocados", comenta Marinho que sofreu para resumir tudo em duas horas. "Tive de amputar o tempo todo, mas conseguimos reunir o que aconteceu de mais significativo nessa época." É claro que houve adaptações. "Hoje não dá para ter um elenco de 60 atores. Somos 13 e nos revezamos", avisa Maria Zilda, que não conta quanto recebeu da BR-Distribuidora e da Eletrobrás, por meio da Lei Rouanet, para montar e viajar com o espetáculo."Nem é possível ter orquestra e cheguei a pensar em gravar a música, mas respeitei a memória de Luiz Antônio e temos seis músicos que viram uma orquestra", completa Flávio. "Afora isso, está tudo lá. Os números de cortina (quando esta se fecha e um ator entretém a platéia na boca de cena), os de platéia (em que as atrizes descem do palco e se misturam ao público), monólogos musicais (um texto dito sobre um tema instrumental), baile (coreografias sofisticadas), muita riqueza nos 130 figurinos, texto malicioso e até um strip-tease da Maria Zilda, em plena forma."

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