Rio comemora centenário de Samuel Beckett

Palestras, performances, debates e filmes integram comemorações do centenário do dramaturgo irlandês, autor de, entre outros textos, Esperando Godot

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

O centenário de nascimento do escritor irlandês Samuel Beckett, completado em 13 de abril, será comemorado no Rio a partir desta segunda-feira, com leitura de seus textos e palestras sobre o autor de Esperando Godot, Dias Felizes e Fim de Jogo, textos fundamentais da dramaturgia do século 20. "Essas peças são parte ínfima de sua produção, que tem também prosa, poemas, ensaios e roteiros para televisão e rádio. Vamos mostrar os outros trabalhos, cuja qualidade se iguala à obra conhecida", adianta a atriz e pesquisadora Marta Metzler, curadora da homenagem, com Isabel Cavalcanti. "No Brasil, muita gente estuda e encena Beckett e este festival vai reuni-los pela primeira vez." Alguns convidados, como Gerald Thomas, conheceu o autor, que influiu na montagem de Quatro Vezes Beckett, espetáculo que fez história nos anos 80. Outros, como Moacir Chaves e José Celso Martinez Corrêa, deram versões pessoais de seus textos. Diretores, como Rubens Rusche, tornaram-se especialistas no dramaturgo e as críticas Flora Sussekind e Tânia Brandão debruçaram sobre sua obra. Alguns textos inéditos em português foram traduzidos para o festival, como Embers, que virou Cinzas, na versão de Léa Viveiros de Castro. Além disso, vêm ao Rio também grupos especializados nele, como a Companhia Irmãos Guimarães, de Brasília, e a Dos a Deux, de brasileiros radicados em Paris. "Eles lerão os textos para rádio, que serão acompanhados de palestras dos especialistas", adianta Isabel. "Como disse José Celso, nosso público é todo mundo porque a obra de Beckett interessa à espécie humana." As leituras se resumirão aos textos dramáticos e às peças curtas, pois os clássicos acima citados serão apresentados no ciclo de filmes que ocorre de 8 a 13 de agosto no Centro Cultural Banco do Brasil, com a produção de Beckett para televisão. Segundo a produtora do festival, Ana Velloso, da Lúdica, foi a única forma de apresentar esta parte da obra. "Por determinação do próprio Beckett, os textos de televisão não podem ser levados a outros veículos, nem a prosa pode ser encenada. Talvez por isso sua obra seja tão pouco difundida", conta. Ana também é atriz e tem currículo recheado de espetáculos brasileiros como Dolores, Clara Nunes, Atlântida e O Bem do Mar (sobre Dorival Caymmi). "É nossa especialidade. Convites para produzir estrangeiros nos fazem aprender mais sobre teatro em geral." No caso de Beckett, uma aula sobre a cena do século 20. Sua primeira peça, Le Kid, sobre o herói medieval espanhol, foi escrita aos 25 anos e passou em branco. Só após a 2.ª Guerra Mundial, ele fez sucesso, mas a demora nunca o desanimou ou o fez parar de produzir. "A dificuldade de seus textos era o rompimento com a tradição aristotélica que exige ação definida, clara e completa no texto dramático. Em Beckett, as situações não têm desenlace, nem ação aparente, talvez anterior ou interior", explica Isabel, que hoje lança seu livro Eu Que não Estou aí onde Estou: O Teatro de Samuel Beckett, tese de mestrado em teatro na UniRio. "Sua atualidade está na crítica à egolatria, ao individualismo e à busca da fama, que se acentuou de seu tempo para cá." Beckett era o contrário disso tudo, pois sempre fugiu dos holofotes, mesmo depois de ter ganho o prêmio Nobel de Literatura, em 1969. "Ele não foi receber a homenagem e dividiu o dinheiro entre os amigos e algumas universidades que achava importante", conta Marta. "Sempre foi avesso às badalações e recusava as facilidades que seu prestígio como autor lhe proporciova. A ponto de sua biografia oficial, escrita por James Knowson, ter o título de Condenado à Fama, pois era assim que ele se sentia, embora tenha morrido em 1989, como o maior nome de sua geração." O Festival Beckett 100 anos vai até dia 23. As palestras, performances e mesas-redondas têm entrada franca. Para realizá-lo, a Telemar entrou com R$ 230 mil pela lei de incentivo à cultura do Estado e o CCBB, com R$ 30 mil, pela Lei Rouanet.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.