Rio abre exposição sobre o modernismo brasileiro

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Por Agencia Estado
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O Paço Imperial, no Rio, inaugura nesta quinta-feira a exposição Quando o Brasil Era Moderno. São mais de 200 obras entre pinturas, desenhos, esculturas, mobiliário, fotos e vídeos que mostrarão ao público um painel do movimento modernista no Rio e no País. No acervo, clássicos e raridades de Tarsila do Amaral, Iberê Camargo, Eliseu Visconti, José Pancetti além de painéis inéditos de Cândido Portinari e projetos de Niemeyer e Lúcio Costa. Analisando o período de 1905 a 1955, a curadoria procurou associar as transformações artísticas da época às mudanças na cidade: da abertura da Avenida Central à construção do Aterro do Flamengo. O Paço aposta no modelo integrado de exposição, outra herança do Modernismo, e promove eventos paralelos: seminários, apresentações musicais e programação de cinema com filmes nacionais do período, além do lançamento de livros. Na abertura, um vídeo traz intelectuais de várias áreas da política, artes e ciências sociais tentando responder à questão geral: Quando o Brasil era moderno? Quando houve um projeto moderno como modelo de construção social? O primeiro segmento da mostra, A Cidade E Seus Personagens, faz uma introdução ao universo da primeira metade do século, através de projeção de imagens do Rio da década de 30, 40 e 50, além de retratos, bustos de personagens das artes, da política e dos negócios. Uma maquete da cidade apresenta, por meio de recursos de narração e iluminação, os três principais momentos da exposição, concebida seguindo uma linearidade temporal. O módulo Convívio Do Moderno e o Eclético, de 1905 a 1919, pontua o início do Modernismo no Rio, indicando como marco urbanístico a abertura da Avenida Central - obra de uma gestão de modernização da cidade, que ainda convivia com uma arquitetura eclética dos prédios. Nesta época, o pintor Eliseu Visconti introduzia o modernismo na arte acadêmica. Lauro Cavalcanti, curador da exposição e diretor do Paço, chama atenção para a tangência do trabalho de artistas e arquitetos, que neste período tinham a mesma formação básica inicial. "O arquiteto era o profissional que tinha autoridade para falar sobre o projeto social, o que hoje é conferido aos economistas", explica Cavalcanti. "Os modernistas tinham uma postura de transformação social, um projeto para o País. Tinham a utopia de mudar o mundo e a arte em um só tempo". Houve uma preocupação em mostrar que o movimento foi se compondo ao longo do tempo e não é fruto de uma ruptura drástica do pensamento artístico. Num segundo momento, Guerra De Estilos - Anos 20 e 30, desenvolve-se o chamado Alto Modernismo. O movimento já havia se firmado graças a nomes como Di Cavalcanti e Portinari. Surge o primeiro prédio moderno do mundo, o Palácio Gustavo Capanema, antigo Ministério da Educação e Cultura. Construído entre 1937 e 1945, a obra foi projetada pelos arquitetos Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, sob orientação do mestre francês Le Corbusier. O acervo do Palácio é constituído por pinturas de Portinari, Guignard e Pancetti, painéis de azulejos de Portinari e Paulo Ross e jardins concebidos por Roberto Burle Marx. Quatro painéis de 2,5 m x 2 m pintados por Portinari, os Quatro Elementos, que adornam o gabinete ministerial, serão expostos pela primeira vez. O Aterro e a Vitória Do Urbanismo Modernista, 1955, é o momento de encerramento da mostra, marcado pela criação do Aterro do Flamengo e pela formação do Grupo Frente, que deu origem ao neo-concretismo. "O Aterro é o espelho carioca de Brasília", diz Lauro Cavalcanti, "com seus grandes corredores e gramados cheios de monumentos". Cavalcanti prevê visitas guiadas por artistas plásticos todas as quartas-feira percorrendo os 4 mil metros quadrados de exposição, que ocupam oito salas do Paço. Há ainda uma sala de estar modernista montada com mobiliário da época, inclusive a mesa em que Carlos Drummond de Andrade trabalhava no MEC, sobre a qual estará o relatório sobre o projeto piloto de Brasília, de Lúcio Costa, com correções manuscritas do poeta. Neste espaço também foi montado uma área com recursos multimídia com informações de publicidade, cinema, rádio, teatro e música do período. O pavilhão dedicado à arquitetura comporta maquetes e fotos dos principais prédios modernos, como a casa que Niemeyer projetou para Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral mas que nunca saiu do papel. A partir do dia 11 de dezembro, acontece uma série de seminários abrangendo o modernismo dos anos 20 aos 50 e conta com a participação de Andreas Huyssen, catedrático da Universidade de Columbia, além de críticos e pesquisadores brasileiros. Todas as sextas, às 12h30, a programação musical Compasso Clássico apresentará obras de compositores e poetas modernos, como Villa Lobos, Chiquinha Gonzaga. O cinema Estação Paço, também vai manter sessões dedicadas a cineastas do período, como Humberto Mauro e o documentarista Alberto Cavalcanti , além de filmes roteirizados por escritores modernistas. A exposição Quando o Brasil Era Moderno é a segunda de uma trilogia de eventos que começou com a mostra Brasil Redescoberto, e termina no próximo ano com outra sobre os últimos 50 anos da arte brasileira. Até março de 2001, o Paço editará três livros como complemento da mostra modernista: Panorama das Artes Plásticas no Rio de 1905 a 1955, Guia de Arquitetura Moderna, Guia Modernista do Rio de Janeiro, com textos de Guimarães Rosa, Manuel Bandeira, Drummond e outros artistas falando cada um sobre um bairro carioca. Quando o Brasil Era Moderno - Rio de Janeiro de 1905 a 1955 - De 7 de dezembro a 25 de março de 2001, de terça a domingo, das 12h às 18h30. Paço Imperial (Praça XV de Novembro, 48 - Centro). Tel. (21) 533-4491. R$ 5 e R$ 3 para estudantes. Entrada franca às terças-feiras e todos os dias para maiores de 65 anos e menores de 8.

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