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Rimas e grafites que resistiram ao tempo

Dedicado à cultura da periferia, Manos e Minas completa 5 anos no ar

Por JOÃO FERNANDO
Atualização:

Foi preciso muita imaginação e fôlego para fazer tantas rimas nos cinco anos do Manos e Minas, programa dedicado ao hip-hop e à arte da periferia, que terá edição comemorativa amanhã, às 17 horas, na TV Cultura. No aniversário, o convidado será o rapper Edi Rock, um dos fundadores do Racionais MCs. "Desde que entrei para o programa tenho vontade de trazer o Racionais. Anualmente, a gente passa uma cantada", torce o diretor Marcelo Oliveira Costa, há três anos na atração. Com o mesmo tempo de casa, o apresentador e especialista em freestyle (improviso de rimas), Max B.O. comemora o fato de pelo menos um membro artista da banda participar. "Eles estão sem gravar há 11 anos. Essa é a primeira apresentação de um integrante sozinho na TV para mostrar o novo trabalho."Segundo a equipe, a única atração da rede aberta que trata exclusivamente do tema teve longevidade porque os ritmos musicais das quebradas se misturaram a outros estilos. "A renovação do programa passa pela renovação do rap. Era uma coisa de nicho, da periferia. Hoje, ele invadiu a Rua Augusta e bairros como o Jardim Paulistano. Atinge diversas faixas etárias e classes sociais", analisa Costa. Max B.O. avalia a produção. "Nas matérias, a gente traz coisas não só ligadas ao hip-hop, mas dos manos e minas em geral. Sempre tem gente nova chegando à plateia."Para o diretor, a ausência de programas dedicados ao rap e hip-hop na TV não se trata de falta de interesse nos ritmos da periferia, mas da música em geral. "O hip-hop é um gênero consagrado. É mais uma resistência ao programa musical do que ao rap. Não há muito espaço para a música ao vivo, há poucos programas como o Som Brasil (Globo), por exemplo", explica Costa, que avalia a mudança no comportamento do telespectador. "As pessoas veem a parte de música na hora em que querem, no computador. Com o Manos e Minas, temos um pós-programa na internet. Se o cara chega em casa às 2 horas da manhã, vai querer ver vídeo sob demanda, não na TV."A página virtual do programa tem conteúdo inédito disponível assim que sair do ar. Além de um videoclipe que pode ser acessado por uma semana, o DJ do Manos e Minas, Erick Jay, monta uma lista de canções que entraram na atração ou que têm a ver com o tema. Há ainda entrevistas com outros DJs e artistas relacionados. É pela rede também que a turma da produção descobre novos talentos para convidar. "A gente recebe muitos CDs, mas também muitos links dos vídeos deles. Hoje, está mais fácil para quem produz", conta o diretor, com passagens pela Globo e MTV. "Meu universo era mais do rock e do jazz. Agora, eu corro atrás de coisas de rap e hip-hop", confessa.Marcelo Oliveira Costa prefere dizer que o Manos e Minas não apadrinhou nenhum artista conhecido hoje, mas ajudou a impulsionar a carreira. "Um dos que saíram do Manos foi o Emicida. Talvez tenha sido o primeiro programa de TV que tenha feito, mas ele já era reconhecido", cita o rapper que já atuou como repórter da atração. "Acho que o Manos é uma oportunidade. Há projetos que só conseguiram caminhar depois de a gente fazer uma matéria", completa Max B. O.Além de divulgar cantores, o programa também dá espaço para grafiteiros. Antes, os artistas mostravam suas criações em um canto do palco. Com o passar do tempo, a produção começou a gravar quem grafita nas ruas. "Desde o ano passado, uns grafiteiros desenharam em casas atrás de um shopping. Depois, eles foram chamados para grafitar um muro inteiro", relembra Costa. Hoje, o Manos e Minas tem um banco de dados de artistas e consegue espaços para os novatos. "Nós vamos na quebrada dos caras. E queremos ampliar, fazer uma exposição. O bom é que o cara não precisa mais sair de madrugada e grafitar escondido."

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