Ribenboim participa de exposição em Veneza

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Por Agencia Estado
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No mesmo dia da abertura do Festival de Cinema, será inaugurada hoje, em Veneza, a terceira edição da Exposição Internacional de Esculturas e Instalações, denominada Open 2000. A mostra, que permanecerá em cartaz até o dia 30 de outubro, reúne trabalhos de 34 artistas de 31 países. Organizada pelo crítico francês Pierre Restany, a exposição inclui trabalhos de nomes consagrados como o italiano Emilio Vedova, o alemão Günter Uecker e o francês Jean-Pierre Raynaud. O único participante brasileiro é Ricardo Ribenboim. Como tudo em Veneza, o espaço escolhido para a mostra também tem sua história. A maioria dos trabalhos foi colocada ao longo da avenida que margeia a famosíssima faixa de areia das praias do Lido, palco do Festival de Cinema. Conhecida como Lungomare Marconi, essa avenida junto ao mar Adriático é também o endereço do famoso Hotel Des Bains, cenário escolhido por Thomas Mann para o fatal encontro entre o garoto Tadzio e o personagem principal (o próprio autor?) do romance Morte em Veneza. O livro foi transformado em filme por Luchino Visconti, na inesquecível obra-prima realizada em 1971 com os atores Dirk Bogarde e Bjorn Andersen. A mostra Open 2000, segundo seus organizadores, teve por objetivo não só promover a interação das artes plásticas com o cinema como também com as formas de expressão artística ligadas ao espaço arquitetônico. Dessa forma, soma-se à programação do Festival de Cinema e à Bienal de Arquitetura (inaugurada em junho e ainda em cartaz nos Giardini di Castello, na qual o Brasil é representado pelos arquitetos Paulo Mendes da Rocha e João Filgueiras Lima, o Lelé). A seleção de trabalhos da mostra anual de esculturas teve como objetivo contrapor artistas consagrados da Europa e Estados Unidos a novos autores vindos de países fora do chamado eixo principal das artes (como Hungria, Ucrânia, Equador e Macedônia) e regiões em acelerado processo de inserção no circuito (como Brasil, Taiwan, China e Portugal). Novo mundo - Ainda segundo os organizadores, "este evento oferece uma forte contribuição ao sistema da arte porque o novo mundo, cheio de temáticas originadas em suas culturas, contribui para enriquecer de novos elementos e linguagens criativas as nações artisticamente já consolidadas". A obra de Ribenboim é uma versão agigantada da sinuosa e orgânica escultura feita de anéis de madeira articulados, que foi mostrada como principal peça de sua individual denominada Troca de Pele, em outubro de 1999, na galeria Nara Roesler, em São Paulo. A escultura especialmente produzida para Veneza por Ribenboim tem 12 metros de comprimento e 90 centímetros em seu diâmetro maior. Toda articulada e podendo ser manipulada para emitir som (um matraquear que lembra o guizo de uma cobra cascavel), ela foi planejada em um programa de computação gráfica. Para contrastar com as cores predominantes em Veneza, especialmente o sépia, a obra é toda branca, recoberta de resina de poliéster. Algumas versões em madeira em formato menor desse trabalho foram exibidas na individual realizada pelo artista no Paço Imperial, no Rio, em maio. Naquela ocasião, ele fez uma projeção sobre fumaça dessas imagens sinuosas e aramadas, obtendo um inteligente resultado: um hibridismo entre alta tecnologia e recursos convencionais, algo recorrente em sua obra. Diálogo com a tradição - Ribenboim admite que seu trabalho se "beneficia de um diálogo com a tradição neoconcreta, mas recusa a frieza do formalismo puro para buscar uma certa contaminação, um certo índice de representação". Sem dúvida que, como nos Bichos de Lygia Clark, há uma ordenação formal rigorosa que se soma a elementos ou superfícies capazes de remeter a estruturas orgânicas. No caso desta obra de Ribenboim, a répteis ou microorganismos. "Estou cada vez mais interessado em produzir trabalhos que possam interagir com o espaço urbano e expressar movimento", afirma o artista, que participou das três edições da grande mostra multimeios Arte/Cidade (São Paulo, 1996-97). Não por acaso, um de seus répteis articulados estreou na individual na galeria Nara Roesler como elemento de cena para uma performance de dança e música. "Gosto de misturar meu trabalho com outras linguagens e outros meios de expressão artística." Agenda lotada - Em novembro, Ribenboim integrará a numerosa delegação de artistas brasileiros na Bienal de Havana. Para essa ocasião, criou uma instalação na qual acumula centenas de infláveis transparentes. Eles vão preencher quase totalmente uma ampla sala da mostra, convocando os espectadores a mergulharem e interagirem com essas formas, quase descarnadas em puro desenho no espaço. "Será minha leitura do tema da Bienal de Havana", afirma o artista. O tema deste ano da mostra cubana é Uns Mais Próximos dos Outros. Entre os muitos compromissos internacionais deste ano, a agenda do artista - que consegue achar tempo para conciliar seu trabalho com a pesada carga horária de suas funções de diretor-superintendente do Instituto Itaú Cultural - inclui ainda participação em coletiva no Museu de Arte Contemporânea de Miami, em novembro. Após ter exibido trabalhos no prestigioso espaço cultural P.S. 1, em Nova York, ele também está no elenco de atrações da exposição Resistência, em cartaz até o dias 15 na cidade de San Sebastian, na Espanha. Essa mostra, com curadoria do espanhol Octavio Zaya, inclui trabalhos de artistas de grande destaque na atualidade, como a iraniana Shirin Neshat (premiada na Bienal de Veneza, em 1999), o cubano Kcho e o chinês Cai Guo-Qiang (outra importante atração da última edição da bienal veneziana).

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