PUBLICIDADE

Revisão de os cafajestes

Do Suplemento Literário[br][br]Longa-metragem de 62 foi tema da estreia, no jornal, do jovem e futuro diretor de O Bandido da Luz Vermelha e de A Mulher de Todos

Por Rogério Sganzerla
Atualização:

4.1.1964Os primeiros instantes de "Os cafajestes", filme de estreia de Rui Guerra no cinema brasileiro, introduzem a inquietude que é sua caracteristica fundamental, como forma originaria e espontanea de contacto com a tragedia. A inquietude desencadeia a ansia, a ansia da procura e da indagação, e é decorrente desta ansiedade que o drama se revela."Os cafajestes" é um filme sobre o amor e é a partir do ato amoroso que se desenvolve. Já na cena inicial a camara embrenha pelo tunel, simbolização do ato amoroso, que é um ato de procura, procura da origem e de conhecimento. (Esta cena funciona também como aviso e prevenção de que a tragédia passa-se no submundo, que Rui Guerra usa como símbolo do próprio mundo). Assim fica esboçada a armadura do filme, que é a da procura universal do homem, da ansia do conhecimento provinda da inquietação.Pouco depois de principiado o filme, há o desnudamento de Leda, principal personagem feminimo, que servirá para a revelação conjunta dos outros personagens. Como forma de revelação destas personagens, foram utilizados dois momentos fundamentais do filme: 1) Momento de procura. 2) Momento de revolta.Esses momentos compõem a propria existencia tragica do homem, sucedendo-se constantemente um ao outro num ciclo de repetição. Rui Guerra constrói o primeiro momento, de procura, na perseguição de Leda nua pela praia, e o segundo, de revolta, na sequencia em que Vavá, depois de uma noite de medo e perplexidade, apanha um revolver e tenta o suicídio, mas não o consuma, disparando a arma contra as dunas. Ambos os momentos significam, para as personagens, tentativas frustradas. Mesmo assim, o ciclo persiste (procura-revolta-procura-revolta...) e isto significa que um personagem, depois de fracassar no segundo momento, retornará ao primeiro, e assim continuadamente, persistindo numa procura aprisionante. Os personagens aprisionam-se no ciclo de repetição constante, que é de estrutura circular (...), um circulo vicioso.A fita principia com as personagens nesse estado, num confinamento ideologicamente provindo da certeza do "fatalismo histórico", que é, para Guerra, uma forma realista de captar a realidade. Leda, por exemplo, aprisionara-se pela inquietude que desencadeia "automaticamente" o ciclo de repetição, mas toma consciencia de sua situação: da crueldade do fato de ser instrumento do egoismo dos homens, que não conhece. É inimiga do amor, teme-o, mas, acima de tudo, procura-o. (...)

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.