Revanche ideológica para os republicanos na era pós-Bush

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Por Luiz Zanin Oricchio
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Crítica: Hoje nos perguntamos por que esse papel em O Sonho Possível deu a Sandra Bullock o seu Oscar. É um efeito de análise retrospectiva, baseada naquele raciocínio de que os filmes não ganham prêmios porque são bons, mas são bons porque ganharam prêmios. Um Sonho Possível trata de uma história edificante, que não deixa de ter suas implicações políticas. Mais: é um daqueles filmes baseados numa "true story", o que, perante o público, lhe confere grau de veracidade acima de qualquer questionamento. Um rapaz negro, pobre, desajeitado, mas muito bom em determinado esporte (o futebol americano), é adotado por uma republicana rica, loura e mandona - Sandra Bullock, claro. Leigh Anne Tuohy é o nome da personagem de Sandra, num filme concebido e realizado para realçar seu brilho como atriz. E, de fato, ela tem lá seus momentos intensos, embora o tipo que encarne ronde o clichê o tempo todo. Ela está acostumada a dirigir a vida do marido e dos filhos e agora assume o controle do destino de Michael Oher (Quinton Aaron), o garotão desamparado e talentoso como quarterback, a mais nobre posição no futebol americano. Leigh Anne controla para o bem do controlado. Ela sabe melhor do que qualquer um a direção a seguir e assume o timão em todos os aspectos da vida, com pequeno espaço para opções individuais. Mesmo assim, reserva-se um grau mínimo de autonomia para o garoto negro, pois, afinal, estamos na América, etc. O filme tem a dizer que: 1) existem conservadores bem-intencionados; 2) dependendo das circunstâncias, eles podem ser melhores do que os progressistas; 3) seres antissociais (como os vizinhos de Oher) devem ser enquadrados para que não perturbem pessoas de bem; 4) essa história de democracia e tomada autônoma de decisões, precisa ser relativizada. Esse é o ideário de Leigh Anne e dá contorno ideológico ao filme. Que, como se disse, tem lá seus bons momentos, mas é problemático quando levado um pouco a sério.

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