Retrospectiva revela diferentes aspectos da obra de Kentridge

Mostra que tem viajado o País chega a São Paulo em versão mais completa

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Por Redação
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A Pinacoteca do Estado inaugura sábado (31) a mostra Fortuna, uma ampla retrospectiva da obra de William Kentridge, que vem viajando pelo Brasil desde outubro de 2012, atraindo recordes de público em suas passagens pelo Rio e por Porto Alegre. A mostra tem em São Paulo sua versão mais completa e traça um abrangente resumo da obra do artista sul-africano, mostrando como é vasta a teia de meios, questões e linguagens exploradas por ele. São quase 300 obras (filmes, desenhos, gravuras, esculturas e instalações) que se articulam para evidenciar o processo de trabalho, deixando de lado uma linearidade formal ou cronológica.

O principal foco de atenção é A Recusa do Tempo. A videoinstalação, exibida pela primeira vez com grande destaque na última Documenta de Kassel, é uma espécie de sinfonia na qual se combinam diferentes aspectos da obra de Kentridge, como a recriação plástica de questões próprias à ciência, o resgate de elementos relativos ao teatro e a encenação de grandes performances, a retomada da ideia de circularidade e uma forma sutil – mas não menos enfática – de denúncia política.

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A Recusa do Tempo, principal trabalho da mostra, pode ser considerado uma espécie de síntese da sua produção? Eu trabalho muito com o teatro e a música tem uma forte centralidade nas minhas obras. A Recusa do Tempo é, na verdade, uma grande soma, uma obra em que muitas coisas feitas em tempos diferentes entram juntas em cena. O caráter coletivo dá-se sobretudo com os compositores, como Philip Miller, músico sul-africano que realizou a maior parte dos trabalhos desta exposição. É um movimento dialético entre o particular e o coletivo, mas essas parcerias também geram um grande espaço para que o imprevisível aconteça, as imagens gerando novos sons e a música provocando novas configurações visuais. Devo dizer que também tenho talento para escolher pessoas com quem trabalhar.

Por que você usa ferramentas simples, tecnologias consideradas ultrapassadas, definindo inclusive seus filmes como cinema da Idade da Pedra?Em primeiro lugar, há a limitação da minha própria capacidade. Para mim, é possível produzir desenhos. Gosto, porém, de mostrar tecnologias e técnicas possíveis, capazes de dar uma sensação de poder. A mensagem é: você pode fazer isso!

Há em seu trabalho uma clara dimensão política, não? Uma maneira um tanto lírica e melancólica de tratar as questões da realidade. Você se considera um pessimista?Sou pessimista e otimista ao mesmo tempo, porque vejo que esses dois futuros se desenvolvem simultaneamente. Quanto à questão política, eu diria que as dimensões políticas, pessoais e formais combinam-se no espaço do estúdio. É a vida ali que dá sentido a tudo, é lá que as ideias são desmanteladas e reconstruídas. Gosto de pensar no estúdio como uma grande cabeça na qual as ideias brotam, transformam-se, ganham corpo de forma muitas vezes surpreendentes até para mim.

Você poderia falar um pouco sobre De Como Nunca Fui Ministro de Estado, feito a partir do livro Memórias Póstumas de Brás Cubas?Eu queria fazer um trabalho sobre alguém preso dentro de um livro. As margens são seus limites. Outro aspecto importante é que quis trabalhar com esse livro, que adoro. Li há mais de 20 anos, quando saiu a edição em inglês, e fiquei encantado com como a obra de Machado de Assis tinha uma sensibilidade tão familiar tendo sido escrita há mais de cem anos. Essa é uma das conexões que a arte traz.

FORTUNAPinacoteca. Praça da Luz, 2, 3324-1000. 3ª a dom., 10h/18h; 5ª até 22 h. R$ 6 (sáb., grátis). Até 10/11. Abertura sábado, 11h.

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