Retrospectiva reúne o melhor de Iberê Camargo

Cerca de cem telas do mestre gaúcho marcam a inauguração da filial paulistana da Bolsa de Arte do Rio, em parceria com o galerista André Millan

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Por Agencia Estado
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Tem início hoje a melhor mostra de Iberê Camargo organizada em São Paulo, desde a homenagem que o pintor gaúcho recebeu da 22.ª Bienal, no fim de 1994, ano de sua morte. A nova galeria André Millan, em parceria com a Bolsa de Arte do Rio, reúne em São Paulo cerca de cem telas que conseguem fazer um apanhado das melhores fases do último grande mestre moderno brasileiro, atravessando as décadas de 40 a 90. É uma oportunidade única para o público ver tantas obras de Iberê reunidas em São Paulo, já que, finda a exposição, no dia 2 de fevereiro do ano que vem, voltam todas para o escuro das coleções particulares de onde vieram. O vernissage de hoje marca também a inauguração da filial paulistana da Bolsa de Arte do Rio de Janeiro, uma das principais casas de leilão do País, que passa a atuar ao lado do galerista André Millan. A nova galeria vai funcionar em um amplo sobrado nos Jardins concebido pelo arquiteto Vilanova Artigas, autor de famosos projetos residenciais em São Paulo. A construção, na Rua Rio Preto, estava praticamente destruída, mas passou por uma reforma que lhe devolveu a atmosfera vanguardista da época em que foi erguida, em 1949, preservando os espaços e volumes originais. O marchand gaúcho Jones Bergamin, radicado no Rio desde 1984, quando adquiriu a casa de leilões carioca Bolsa de Arte, vai cuidar das exposições de arte moderna da nova galeria dos Jardins, enquanto André Millan se ocupa de contemporâneos como Tunga, Miguel Rio Branco, Flávia Ribeiro, Cabelo, Nelson Félix e Carlos Bevilacqua. Apesar da montagem confusa, que não possui um conceito formal ou cronólogico que estabeleça diferenças entre as diferentes fases do artista, a exposição reúne trabalhos de peso e consegue provar por que Iberê é considerado um dos maiores pintores brasileiros da história. No início de sua trajetória, nos anos 40, Iberê já desenvolvia uma pintura figurativa que o distinguia da média da produção local. Contudo, a marca do expressionismo já é potente desde as obras de 1941. Suas pesquisas, a partir da segunda metade da década de 50, começam a caminhar em direção à abstração. Iberê fixou-se no célebre tema dos carretéis a partir de 1958, uma evocação obsessiva dos objetos de sua infância. Depois, evoluiu, a partir da metade dos anos 60, para uma abstração viril e de exuberante matéria, que fez dele um dos mais destacados representantes do expressionismo abstrato no País. As obras mais interessantes da retrospectiva são exatamente da fase dos carretéis, que o próprio artista já relacionou com o seu passado. "No meu andarilhar de pintor, fixo a imagem que se me apresenta no agora, como retorno às coisas que adormeceram na memória. Essas devem estar escondidas no pátio da infância. Gostaria de outra vez ser criança para resgatá-las com as mãos. Talvez foi o que fiz, pintando-as", disse ele em 1992, em declaração reproduzida no livro Conversações com Iberê Camargo (Iluminuras), da crítica de arte Lisette Lagnado. Também será lançado na noite de hoje o livro Iberê Camargo, com ensaio do crítico carioca Paulo Venâncio Filho, ilustrado por cerca de 200 reproduções em cores, mais cronologia e bibliografia sobre o pintor. A edição é de Silvia Roesler e do Instituto Cultural The Axis, com apoio da Fundação Iberê Camargo, no Rio Grande do Sul. Iberê Camargo. De segunda a sexta, das 10 às 19 horas; sábado, das 11 às 17 horas. Nova Galeria André Milan. Rua Rio Preto, 63, tel. 3062-5722. Até 2/2. Abertura hoje, às 19 horas, com lançamento de livro.

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