Retrospectiva exibe obras de Anthony McCall em SP

Na mostra do artista britânico há filmes de performances, desenhos, cadernos de anotação

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Por Camila Molina- O Estado de S.Paulo
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Era agosto de 1973 quando o britânico Anthony McCall exibiu pela primeira vez a instalação Linha que Descreve um Cone. Um facho de luz projetada descrevia no ambiente escuro e enfumaçado a forma de um cone, numa experiência de cinema, escultura e desenho, oferecendo ao espectador a experiência de sentir à sua volta nada além de uma luz encantadora e densa, que criava formas simples e complexas. Aquele "filme de luz sólida", como definiria o artista, existia no espaço real, tridimensional, não contendo, assim, "nenhuma ilusão"."A maioria das obras que faço é sobre transição", diz McCall, agora em meio a outra instalação recente, Meeting You Halfway II, de 2010, obra principal da primeira exposição individual do artista no Brasil, a ser inaugurada amanhã para o público na Luciana Brito Galeria. Grande destaque da arte contemporânea internacional, McCall, nascido em 1946 na Inglaterra, mas residente nos EUA desde 1970, exibe na retrospectiva em São Paulo a versão original de Linha Que Descreve Um Cone, além de filmes de performances, desenhos, cadernos de anotação e a grande instalação de 2010 que remete a uma nova criação. Antes, no Brasil, só havia exposto em 2008, na mostra coletiva "Cinema Sim", no Itaú Cultural.Formado em design em Londres, nos anos 60, McCall, realizava performances de grupo como Landscape For Fire (Paisagem para Fogo), Landscape for White Squares (Paisagem para Quadrados Brancos) ou a individual Earthwork (Trabalho em Terra), presentes na mostra. Para registrar ações performáticas, se interessou pelo cinema - principalmente pela projeção -, mas ultrapassando a ideia de documentação ou formatação de uma narrativa."Com Landscape for Fire, dei-me conta do paradoxo que era assistir ao registro de uma performance. Comecei a especular como seria fazer um filme que só acontecesse no momento da projeção, sem referência a um lugar que não fosse aqui e agora", diz. "Nos anos 1970, achava que deveríamos fazer um cinema em oposição a Hollywood e isso foi considerado político, de vanguarda, porque não era um trabalho de sonhos", conta o artista sobre o conceito dos "filmes de luz sólida" (solid light films). "Cresci no momento da arte conceitual e do pós-minimalismo", continua.Na época das primeiras exibições de Linha Que Descreve um Cone, a luz do projetor 16mm era amarela e ficava densa, na verdade, com a poeira e fumaça dos cigarros dos espectadores. Mas, na década de 1980, o artista deixou de apresentar seus solid light films pois, ao levar suas instalações para o tão "limpo" cubo branco dos museus, não havia como deixar a luz sólida sem fumaça. "Não fiz nada de arte nessa época." Insatisfeito, preferiu esperar, e sobreviveu de trabalhos em design gráfico e edição. "Sem poeira, o trabalho ficava invisível. Tive de esperar até que aparecesse a máquina de fumaça, que só foi inventada nos anos 1990", diz. Assim, sua obra voltou à tona e está nas coleções de importantes instituições do mundo todo. Anthony McCall. Luciana Brito Galeria (Rua Gomes de Carvalho, 842). Tel. (011) 3842-0634. De terça a sábado, das 10 h às 19 h. Abertura hoje, 19 h, para convidados. Até 18/06.

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