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Retrato da geração 90 reestréia em SP

Sutil Companhia volta à cidade com a elogiada motangem curitibana A Vida é Cheia de Som e Fúria, adaptação da obra de Nick Hornby

Por Agencia Estado
Atualização:

A coisa mais revolucionária nos anos 90 pode ter sido a resistência a trocar a coleção de discos de vinil por CDs. Essa é a atitude mais "política", mais positiva do personagem Rob, o anti-herói de Nick Hornby no romance geracional Alta Fidelidade (High Fidelity). Não é o que Rob preconiza, mas o que lhe sobra. A montagem curitibana para o texto de Hornby, chamado aqui de A Vida É Cheia de Som e Fúria - espetáculo que reestréia nesta quarta-feira no Sesc Anchieta, após temporada de grande sucesso -, é fiel a essa "questão" de Hornby. O que nos sobrou? O que não é exatamente uma "questão", mas um vácuo tornado expressão. Daí a força de Alta Fidelidade. A geração hippie teve em Hair um retrato estilizado, que endossava o heroísmo e o pioneirismo dos contraculturalettes. Alta Fidelidade não endossa, apenas retrata. A maior parte do público ri e se reconhece nas gags da peça. Há um grande charme em ser um perdedor, nos mostra o diretor curitibano Felipe Hirsch. A irmandade (brotherhood) substituiu a célula familiar em tudo que ela possui de mais tênue: a ausência de compreensão, a falta de diálogo, o mutismo coletivo e o equilíbrio frágil e inexplicável. Ainda assim, é uma saída. A música dos Smiths, Joy Division, Echo and the Bunnymen e o som negro da Motown são a trilha sonora (algumas licenças, embora bem-vindas, constituem alta traição à arqueologia musical de Hornby, como a inclusão de Manu Chao na trilha). Um só personagem carrega sua história, enquanto outros - principalmente as mulheres - são apenas coadjuvantes quase mudos. Machismo? Não, Rob não é suficientemente personagem para ser machista. O fato de saber que algo está errado com ele não o torna especial, mas apenas um amargurado. A sua ética, que distribui responsabilidades entre ex-namoradas e a mãe possessiva, também não o credencia a macho. A vida, como verão os espectadores, não é cheia de som e fúria. Mas Felipe Hirsch parece intuir que o pop também não admite demasiada convicção. E faz um espetáculo bom de se ver, agradável e leve como um show de rock. A Vida É Cheia de Som e Fúria. Comédia - Direção e adaptação de Felipe Hirsch para obra de Nick Hornby. Duração: 150 minutos. De quarta a sábado, às 21 horas; domingo, às 19 horas. R$ 15,00. Teatro Sesc Anchieta. Rua Doutor Vila Nova, 245. tel. 256-2281. Até domingo.

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