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Ressonâncias de Michel Foucault, em nova coletânea

Professora livre-docente analisa artigos sobre o pensamento do filósofo francês

Por Agencia Estado
Atualização:

Esta coletânea reúne os trabalhos oriundos de um seminário ocorrido na Unesp de Araraquara em 2004 e também inclui textos de outros intelectuais que não fizeram parte do evento. As perspectivas metodológicas e os temas abordados vão da política à crítica feminista, passando pelas transformações históricas da subjetividade. Atentos ao fato de que o pensamento de Foucault não se explica unicamente por sua separação em três fases (formas do saber, relações de poder e modos de subjetivação), os quinze autores desta coletânea não se furtaram a destacar algumas ressonâncias entre problemas e questões presentes em diversos textos do filósofo. Trata-se, portanto, de uma coletânea voltada a enfatizar alguns conceitos e temas propostos por Foucault ou investigados a partir de seu trabalho. Desde o primeiro texto, escrito pelo responsável do Centro Michel Foucault em Paris, é possível perceber a força e a relevância do legado de Foucault na atualidade. A seguir, os demais estudos tratam de variados aspectos de sua trajetória referentes, por exemplo, aos limites e à amplitude dos mecanismos de controle e vigilância social fabricados na época contemporânea, aos impasses do direito e da lei na modernidade, ao vigor das lutas sociais resistentes à submissão diante da naturalização das injustiças e ao entendimento da razão clássica. Há também textos relacionados à constituição de uma estética da existência conjugada a princípios éticos nem sempre evidentes aos que lêem apressadamente os livros de Foucault, especialmente suas aulas no Collège de France, durante a década de 1970. A coletânea possui diversas partes que podem ser lidas separadamente ou em ordem linear. Assim, por exemplo, a influência de Foucault no feminismo de inúmeros países marca presença nos textos de Tania Swain, Lucia Scavone, Margareth Rago e Michelle Perrot. A historicidade da noção de sujeito é tratada nesta parte do livro e indicada, ainda, nos estudos consagrados à amizade, às mazelas da disciplina e à produção da governamentalidade. Os percursos filosóficos no final da coletânea e os engajamentos situados em seu começo indicam algumas perspectivas descontínuas do pensamento foucaultiano e, sobretudo, a potência por ele expressa de conduzir para épocas e lugares distintos o obstinado trabalho de desnaturalizar um conjunto heterogêneo de verdades, historicizando com rigor as condições que as tornaram demasiadamente humanas, necessárias ou satisfatórias. O filósofo, que pouco registro gostaria de deixar sobre a vida pessoal, também não concordaria com a criação de uma "escola" de seu pensamento. Em várias entrevistas concedidas a jornalistas da época, Foucault declarou que sua trajetória intelectual era aberta e, de certa forma, experimental. Os autores de "O legado de Foucault" souberam respeitar esta característica e por isso escaparam do risco de emprestar à identidade do filósofo um perfil menos tenso e polêmico do que aquele expresso por sua escrita. (Denise Bernuzzi de Sant´Anna é professora livre-docente da PUC-SP) O Legado de Foucault - Editora Unesp. Org. Lucila Scavone, Marcos César Alvarezm e Richard Milskolci. Coletânea de artigos que enfocam pensamento do filósofo francês sobre feminismo, violência, controle social, loucura, amizade e sexualidade. 300 págs., R$ 32.

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