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Resgate das cores de Bandeira

Em Paris, Unesco devolve cores à obra de Antonio Bandeira Pintor nordestino morto na França em 1967 é objeto da exposição Um Brasileiro em Paris, que tenta recuperar a vida e o legado do artista abstrato

Por Andrei Netto
Atualização:

Pense em pintores brasileiros com telas reconhecidas no exterior, que conviveram com mestres de sua época e, sobretudo, que tenham sido bem-sucedidos no desafio de deixar um legado consistente para a história da arte. Pois acrescente à sua lista o nome de Antônio Bandeira. Se a referência não lhe diz nada, não se recrimine. Você faz parte do público que a Unesco e a Embaixada do Brasil tentam captar com a mostra Um Brasileiro em Paris, dedicada ao pintor abstrato morto em 1967, coberto de sucesso, na capital francesa.

 

Veja galeria de imagens do artista (Antônio Bandeira)A exposição está em cartaz até dia 30, no espaço Maison de l"Unesco, na sede da organização, em Paris. Seu desafio é recuperar do ostracismo e do desconhecimento o trabalho de um pintor que, em seu apogeu, foi admirado no meio artístico no Brasil, na França e nos EUA. A mostra se baseia em um intervalo de 20 anos, entre 1947 - um ano após sua chegada a Paris - e 1967, quando morreu. Esse ínterim é retratado em seleção de 40 obras, óleo sobre tela e aquarelas, que refletem a complexidade de suas técnicas, o fascínio pelas cores e a perícia no seu trato, traços que lhe garantem a originalidade.Pintor autodidata, Bandeira nasceu em Fortaleza, mas transferiu-se jovem, aos 23 anos, para o Rio. Em 1945, teve o talento premiado duplamente, ao expor no Instituto dos Arquitetos do Rio e ao receber uma bolsa de estudos na França. Em Paris, entre 1946 e 1950, amadureceria como pintor ao cursar a Escola Superior de Belas Artes e a Académie de la Grande Chaumière, mas também ao aproximar-se de pintores como Camille Bryen e Wolfgang Schulze, ou simplesmente Wols. Os laços de amizade e a empatia intelectual levam os três a fundarem o grupo Banbryols, que logo se imporia como movimento moderno relevante entre 1949 e 1951.Elegância. Depois de flertar com o cubismo, que praticara com personalidade própria e linhas elegantes, Bandeira encontrou o seu caminho na pintura abstrata. Obras como Natividade (1949), Les Clochards (1949) e La Grande Ville (1950) testemunham a criatividade de sua primeira fase, já marcada pela temática que lhe seria cara por toda a carreira: o homem - e suas desigualdades -, as paisagens urbanas e a natureza. Também são destaques da mostra obras como La Ville Bleue (1958), Printanier (1965) e Cité (1968), para citar exemplos esparsos em meio a um conjunto marcante.Montada com obras emprestadas de coleções privadas e de instituições do Rio, de Fortaleza e de Salvador, a exposição não se limita a apresentar o seu trabalho, mas também traz à tona flashs de sua vida, captados em cartas, fotografias, jornais de época, convites de mostras, entre outros materiais de divulgação. Para o público interessado em descobrir mais, há também um catálogo bilíngue assinado por Vera Novis, comissária da exposição, com prefácio do crítico de arte francês Patrick-Gilles Persin. Especializada no pintor, Vera reconhece a falta de conhecimento do público a seu respeito. "Bandeira era muito conhecido em Paris nos anos 50 e 60. Mas ele morreu muito cedo e não deixou quem acompanhasse de perto seu trabalho, que cuidasse de sua obra durante os últimos 30 anos", diagnostica a comissária, que não se contenta em lamentar a notoriedade perdida pelo brasileiro e trabalha para reconstituí-la. "Acredito que essa exposição seja capaz de levar à redescoberta da obra de Bandeira."

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