Renovado, Miss Brasil completa 50 anos

Tornar o concurso atraente de novo é uma luta entre incluir elementos atuais e não descaracterizar uma fórmula que fez sucesso no passado

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Por Agencia Estado
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Nada de 90, 60, 90, a exigente medida em centímetros de busto, cintura e quadril que atormentava as misses pelo mundo afora. As semelhanças entre as concorrentes este ano param nos saltos altíssimos, nas roupas coladas, nas bijuterias exuberantes. Muitas das 27 meninas foram nomeadas - e não eleitas - por cidades onde o título ainda carrega um pouco do prestígio do passado. Quase não há grandes e organizados concursos nos Estados. O Miss Brasil completa 50 anos em 2004 e vive à custa da nostalgia. Olhos e cabelos igualmente negros, Catarina Guerra abre o sorriso. "A sociedade esperava por mim", diz, sem modéstia. A filha de um deputado de Boa Vista virou automaticamente Miss Roraima assim que completou 18 anos, por ser considerada a "representante da beleza do Estado". Viajou a São Paulo pela primeira vez e concorre na quinta-feira ao título de Miss Brasil. A paulista Mayra Bernava veio de Dracena - cidade a quase 700 quilômetros da capital, com 40 mil habitantes. Ela é uma das poucas que foram eleitas num concurso estadual, mas está mais interessada em receber o diploma de seu curso de Turismo do que a coroa e a faixa. "Nunca foi um sonho, estava quase desistindo, mas meus pais insistiram muito." A Miss Acre, Fabíola Gomes, também nasceu em São Paulo. Tem família no Estado e foi chamada para representá-lo no concurso. As misses se esforçam para manter o corpo empinado, enquanto ouvem com atenção as orientações do diretor, que grava cenas do período pré-concurso em um hotel no interior de São Paulo. A Rede Bandeirantes e a recém-contratada Marlene Mattos resolveram este ano transformar o Miss Brasil em um programa de TV, que será transmitido ao vivo. Mas torná-lo atraente de novo é uma luta entre incluir elementos atuais e não descaracterizar uma fórmula que fez sucesso no passado. "É preciso romper com o cafona", preocupa-se o estilista Marcelo Sommer, contratado para cuidar da coroa aos vestidos e maiôs da misses. As meninas em nada lembram as profissionais com que Sommer está acostumado a trabalhar no São Paulo Fashion Week. Há magras, baixas, curvilíneas e gordinhas. Para lá e para cá no hotel, não se importam com a obrigação de usar sempre a faixa de cetim branco. Nem em ser chamadas de Rio Grande do Sul, Alagoas, Pernambuco. São exceções entre as adolescentes: não sonham com o efêmero mundo da moda, buscam um título que imaginam durar para sempre. "Inflou meu ego para o resto da vida", diz a Miss Brasil de 1958, Adalgisa Colombo. Aos 14 anos, começou a fazer aulas de passarela, de inglês e tratou de arrumar um emprego na rádio para se preparar. Esperava com ansiedade completar 18 anos para participar do concurso. O espelho era Martha Rocha, a primeira brasileira a concorrer a Miss Universo. A participação do País no concurso mundial - eternizada pelo episódio das duas polegadas a mais, que fizeram Martha perder o título - marcou o início oficial do Miss Brasil, em 1954. Antes disso, havia eleições esporádicas, que foram suspensas durante a Segunda Guerra. Em 1978, a Rede Tupi desistiu de transmitir o evento, que já havia consagrado Vera Fisher, Martha Vasconcellos, Ieda Maria Vargas. A grande sensação eram as pernas das misses reveladas no desfile de "maillot", como os maiôs eram chamados. "O mundo mudou, as pessoas mudaram, talvez nunca se consiga recuperar o brilho", diz Ieda, a primeira brasileira a ganhar o Miss Universo. Nos anos 80, Silvio Santos passou a promover o evento, transformando-o numa espécie programa de auditório. A popularização do Miss Brasil é apontada por Boanerjes Gaeta Junior, atual diretor do concurso, como um dos principais motivos da sua decadência. Em 1990, a eleição não foi realizada. Sua organização passou de mão em mão durante os dez anos seguintes e só em 2002 ela voltou a ser transmitida ao vivo.

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