"É uma Bienal que quer se definir por relações entre artistas. O leitmotiv é a ideia de constelação, o conceito de que as coisas só ganham significado quando estão relacionadas", diz o venezuelano Luis Pérez-Oramas, curador-geral da 30.ª Bienal de São Paulo, marcada para ocorrer em setembro de 2012. História e contemporaneidade, assim, vão se entrelaçar na próxima exposição, que terá entre 110 e 115 artistas participantes. Mais ainda, será uma mostra criada a partir de uma crença "na variedade da beleza", diz o curador de A Iminência das Poéticas, título da edição que vem sendo preparada.Ainda falta tempo até a abertura da 30.ª Bienal, mas o projeto da mostra já está praticamente definido. De Nova York, Oramas concedeu entrevista ao Estado depois de oito meses de trabalho dedicado exclusivamente à concepção da edição do evento. A lista completa dos artistas será anunciada entre fevereiro e março, mas alguns dos integrantes da exposição, em adiantadas "conversações", já são citados pelo curador. Entre os brasileiros, o concretista Waldemar Cordeiro, o neoconcretista Hélio Oiticica, o jovem Pablo Pijnappel, que vive na Alemanha e nunca expôs no Brasil, e Ricardo Basbaum. Entre os estrangeiros, o fotógrafo August Sander (1876-1964) e Franz Erhard Walther - ambos alemães -, o pintor francês Bernard Frize, o holandês Hans Eijkelboom, o norte-americano Mark Morrisroe, o italiano Bruno Munari e o colombiano Nicolás París."O Brasil vai prevalecer. É um polo cultural e primeira potência da América Latina e será uma Bienal que quer assumir o lugar em que ocorre. Mas gosto de dizer que a seleção, em geral, é muito equilibrada, internacional", afirma Oramas. "A arte latina é uma presença óbvia, um dos momentos mais vibrantes da arte está acontecendo neste continente."Constelações. O projeto de Luis Pérez-Oramas, curador do Museum of Modern Art (MoMA) de Nova York, foi escolhido em dezembro de 2010 pela direção da Fundação Bienal de São Paulo para a 30.ª mostra da instituição. Desde então, o venezuelano e os cocuradores Tobi Maier, André Severo (artista gaúcho) e Isabela Villanueva vêm se dedicando ao desenvolvimento da edição. Oramas, que depois vai realizar a retrospectiva da artista brasileira Lygia Clark para o MoMA, marcada para maio de 2014, adianta alguns pontos das "constelações" da 30.ª Bienal.Será uma mostra com cerca de 40% de obras inéditas ou comissionadas para a ocasião; repleta de recortes monográficos dedicados ao trabalho de criadores contemporâneos e históricos - não terá nenhuma obra de Lygia Clark, ele diz; e a abrangência da exposição para outros espaços da capital paulistana para além da "casa" da instituição, o Pavilhão Ciccillo Matarazzo, no Ibirapuera. "Nos interessa reconhecer o espaço de São Paulo com sua dinâmica e matizes sociais, sem ser demagógico." Oramas cita parcerias em andamento com o Masp - a ideia de comissionar obras de até três artistas em diálogo com o importante acervo do museu paulistano -, com o Instituto Tomie Ohtake e as Casas Museus da Prefeitura de São Paulo.A expografia da mostra no pavilhão da Bienal, projetado por Niemeyer, já vem sendo desenvolvida pelo brasileiro Martin Corullon, do escritório Metro Arquitetos. O curador calcula que obras de cem artistas ocuparão o prédio e fala, ainda, de intervenções urbanas na cidade. Cita, também, um projeto interessante do cineasta canadense Guy Maddin em parceria com o MoMA e o Centro Georges Pompidou da França, em que serão realizados curtas a partir de uma coleção de "filmes perdidos" de diversos diretores.Arqueologia. O projeto de A Iminência das Poéticas inclui cinco módulos (leia acima). Levando em consideração que a anterior 29.ª Bienal tinha mais de 800 obras de 159 artistas, Oramas conta que havia um "sentimento geral" de que a 30.ª mostra deveria ter número menor de participantes. "Levamos em consideração que deveríamos apresentar a complexidade dos processos criativos", afirma. As exibições monográficas de artistas terão peso na exposição e o curador fala na concepção de nichos que promoverão pontuações por meio de "contrapontos" entre os trabalhos. "É mostra contemporânea, mas quer constituir campos históricos, funcionando como arqueologia do presente", completa.