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Regina Silveira cria obra permanente para ocupar a calçada da Biblioteca Mário de Andrade

A obra, prevista para ficar pronta em dezembro, ainda começará a ser feita no local

Por CAMILA MOLINA - O Estado de S.Paulo
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A mais nova obra pública da artista Regina Silveira é uma espécie de tapete em mosaico para a calçada da Biblioteca Mário de Andrade, no centro de São Paulo. Um "poema visual" que faz referência ao bordado em ponto de cruz e coloca a palavra "biblioteca" escrita diversas vezes em diferentes idiomas. "Acho ótimo que as pessoas possam caminhar em cima do trabalho", afirma Regina Silveira, que vai ligar as duas entradas da instituição - as da Rua da Consolação e Avenida São Luís - com Paraler, título de sua intervenção artística a ser construída com pedras de porcelanato no chão da movimentada região da cidade. A obra, prevista, inicialmente, para ficar pronta em dezembro, ainda começará a ser feita no local, mas hoje à noite, às 19 horas, a artista faz o lançamento desse projeto em evento no hall da Biblioteca Mário de Andrade (Rua da Consolação, 94, telefone 3256-5270). Na ocasião, ela também autografa o livro O Outro Lado da Imagem e Outros Textos: A Poética de Regina Silveira (Edusp), edição que reúne escritos do crítico, curador e poeta Adolfo Montejo Navas. A referência ao ponto de cruz na trama da obra feita com pedras de seis cores (veja na imagem ao lado) é "dado ligado à alfabetização das mulheres", diz Regina Silveira. O bordado "se oferece aos pedestres como um poema visual a ser percorrido e lido de muitas maneiras e, ao mesmo tempo, sugere cuidado e desvelo - há muitos séculos aderidos a este fazer artesanal - por nossos passeios e espaços públicos", continua a artista. Não é a primeira vez que Regina "borda" um espaço público - há dois anos, ela criou para as fachadas de vidro do Masp, na Avenida Paulista, a obra Tramazul, um grande diagrama de bordado de um céu azul, com representações de nuvens, pontos de cruz, linhas e agulhas, feito de faixas de vinil translúcidos com impressões digitais. Paraler, criado para a Biblioteca Mário de Andrade, é, agora, uma marca de "carinho pela calçada", diz a artista. Na verdade, Regina Silveira concebeu esse projeto em 2003, quando participou de concurso da prefeitura de Nova York para a criação de obras permanentes para o edifício da New York Public Library. Na época, a proposta da brasileira de um conjunto de trabalhos para o hall, o terraço e a escadaria da instituição norte-americana foi a vencedora entre as criações apresentadas por 80 artistas e arquitetos. Problemas desgastantes relacionados à execução e materiais da obra de Regina Silveira na biblioteca nova-iorquina levaram, enfim, ao cancelamento do projeto. "Foi uma desilusão tão forte, achei que houve um controle da imaginação nessa experiência", conta a artista. Depois de quase dez anos, ela está feliz por resgatar e adaptar uma parte da obra - antes intitulada Paving the Way - para "um lugar mais importante para mim, mais emblemático", define. Apesar de a Biblioteca Mário de Andrade ser uma instituição vinculada à Prefeitura de São Paulo, a obra Paraler vai ser executada com 100% de recursos obtidos via Lei Rouanet. Foi aprovada pelo Ministério da Cultura a captação de R$ 794.170,00 para a realização do projeto, a ser patrocinado pelo Itaú, que também filmará um documentário sobre o trabalho. Segundo o arquiteto Ronald Monreal, responsável pela execução de Paraler - e parceiro de Regina Silveira em outros trabalhos públicos da artista -, cerca de 1 mil m² de piso de porcelanato antiderrapante será a área a ser construída na calçada da Biblioteca Mário de Andrade, tombada pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp), que aprovou a intervenção. "Não é uma obra complicada, mas estamos respeitando os elementos de acessibilidade do local", diz Monreal. "Por ser um ambiente público, a maior dificuldade vai ser conciliar as etapas de trabalho sem prejudicar os pedestres." Primeiramente, durante 60 dias, serão pré-montadas, no ateliê do arquiteto, as placas com as palavras feitas em composições de porcelanato. Depois, os módulos serão aplicados na calçada da instituição. Enquanto isso, foi montada, na entrada da Biblioteca Mário de Andrade, uma mostra com desenhos, maquetes, escritos e imagens para explicar o projeto de Paraler e resgatar todos a proposta que Regina Silveira fez para a New York Public Library. Mais ainda, a instituição paulistana apresenta outra exposição da artista, Par Avion, com obras que ela criou em parceria com colaboradores e em homenagem à histórica revista Avião, publicada em 1948 por criadores da cidade gaúcha de Bagé.

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