Regina Braga reestreia peça sobre Elizabeth Bishop

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Por AE
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Elizabeth Bishop queria um porto seguro. Órfã desde criança, educada em colégios internos, a poeta norte-americana estava devastada quando desembarcou no Porto de Santos em 1951. Atormentada por ideias de suicídio, pelo alcoolismo crescente, pela autocrítica acirrada que a impedia de criar. Foi aqui que ela encontrou certa calma. Calma para amar e para escrever. É sobre a história desse encontro com o Brasil que se debruça "Um Porto para Elizabeth Bishop" - peça que fez sua estreia há uma década - e, agora, no ano em se comemora o centenário da escritora, volta ao cartaz. No monólogo interpretado por Regina Braga pouca coisa mudou. O cenário, antes grandioso, recrudesceu um pouco, reconhece o diretor José Possi Neto. No texto de Marta Góes, porém, tudo continua igual. A diferença, arrisca-se a dramaturga, talvez esteja só nos olhos de quem vê. "Bishop fala de um lugar que era o fim do mundo. De dez anos para cá, o País mudou muito. Colocou a cabeça para fora, apareceu", diz Marta. Outro dado a nos distanciar de 2001 é a difusão da obra da escritora americana. Quando a montagem subiu ao palco pela primeira vez, o conhecimento sobre Bishop era ainda incipiente entre nós. As seletas de poemas "Iceberg Imaginário" e "Poemas Brasileiros" tinham apenas acabado de ser editadas. E, não por acaso, "Porto para Elizabeth Bishop" chamou atenção de boa parte da intelectualidade nacional para um episódio quase desconhecido: a longa estada da americana em terras brasileiras. "Eu mesma já tinha ouvido falar dela, mas nunca tinha lido nada", conta Regina Braga. À época, imersa no clima das reflexões sobre os 500 anos do Descobrimento, a atriz queria falar sobre o Brasil. Procurou Marta Góes para encomendar um texto que seguisse nessa direção. E encontrou no olhar que Bishop lançava ao País - misto de encantamento e repulsa - fonte pródiga para tal intento.São muitos os dados da política e também da história privada do Brasil a despontarem na peça. De Carlos Lacerda ao hábito de enrolar bebês em mantas de lã. Do golpe militar aos desfiles de carnaval. O fio a conduzir o espetáculo, contudo, é um romance. Por 15 anos, Bishop manteve um relacionamento com Lota Macedo Soares, arquiteta influente nos anos 1950 e 1960 e uma das responsáveis pelo projeto do aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro. "Essa ligação amorosa foi revigorante para ela. Bishop era uma pessoa solitária, deprimida. Não que ela tenha se transformado em alguém alegre e leve. Mas essa relação deu a ela uma estabilidade", comenta Marta. Seria nesse período de relativa tranquilidade, no meio da mata de Petrópolis, que Bishop descobriria o prazer de cuidar do jardim, de assar bolos, de não fazer nada, conforme relatou em cartas para a poeta Marianne Moore. Aqui também ela escreveria suas obras mais importantes e receberia o prêmio Pulitzer. Entre idas e vindas, a relação com o Brasil perdurou por 22 anos, tempo em que passou não só pelo Rio e por Petrópolis, mas também por Ouro Preto. Sua história de amor nos trópicos, porém, acabou em 1967, com o suicídio de Lota. Seria mais uma morte a pairar sobre Bishop, mestre na arte de perder. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. Um Porto Para Elizabeth Bishop - Teatro Eva Herz da Livraria Cultura (Avenida Paulista, 2.073). Telefone (011) 3170-4059. 6ª e sáb., 21h; dom., 19h. R$ 40/R$ 50. Até 26/6.

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